À margem

Publicado por Antonio Ângelo 1 de julho de 2021

À  margem
Aqui neste boteco de estrada sem destino
Se encontra às sextas-feiras, à noite
O solitário masculino

Até alta madrugada, falam de dramas
Enquanto, sem contenção
Se embriagam, fumam, discutem

Arremedo de teatro
Ao som de canções melodramáticas
Com a vida trapaceiam

Este fala: paixão sem chances
Aquel’outro: traições
De viagens o que está ao balcão

Um, da prisão recém-liberto
Comenta, em palavras tortas
Sobre o tresloucado fato

O revólver à mão, a mulher à porta
A expressão de horror
O impulso que não conteve

Ainda um outro, cabelos grisalhos
Enfurnado ao canto, calado
Olha como quem nada vê

Há o que se vangloria contando histórias
De conquistas inverossímeis
De aventuras, amores perros

O religioso, tomando seus tragos
Não se esquece de como o diabo
Surge entre as dobras do sagrado

Neste boteco onde nada acontece
É onde relatam casos, inúmeros
Na desordem de alucinados

Mesmo os ainda jovens
Revolvem experiências amargas
De fugas que não os libertam

Todos atados a âncoras
Que ao porto os fazem presas
Do passado que os devora

Comentários
  • Wesley 856 dias atrás

    Um Caravaggio irretocável.

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