Tradutor, seu emprego está garantido…

Publicado por Antonio Carlos Santini 19 de agosto de 2025
Inteligencia Artificial Img

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Recentemente, vi uma matéria com a lista de profissões que a IA vai eliminar do planeta. Minha atual profissão – tradutor – é a primeira da lista.

Os trabalhos braçais (operador de empilhadeira) estariam a salvo da revolução, enquanto as tarefas mais “finas”, envolvendo mais a fundo o intelecto humano, correriam perigo. Como se não fosse exatamente uma atividade “fina” que vai criando a própria IA!

Desafiado pela notícia, fiz a experiência de pedir que a IA traduzisse esta frase:

– Meu cunhado tentou me passar a perna, mas trocou os pés pelas mãos e acabou quebrando a cara…

Recebi esta tradução:

– My brother-in-law tried to pull the wool over my eyes, but he got his hands mixed up and ended up falling flat on his face…

Quase que ela acertou, não é?

Como não gosto de humilhar ninguém, resolvi dar nova oportunidade à IA. Pedi a tradução de outra frase:

– Seu negócio deu bode porque você dormiu no ponto e agora a porca vai torcer o rabo.

Eis a resposta da coitadinha:

– Your business went wrong because you slept on the job and now the pig is going to twist its tail.

Dias depois, um amigo me disse que a I.A. estava cada vez mais inteligente, evoluindo rápido. Então, pedi-lhe a tradução de outra frase:

– Não é que esteja matando cachorro a grito, mas uma semana de papo pro ar seria a sopa no mel.

Eis a resposta que recebi:

– It’s not that I’m shouting at anyone, but a week of chatting would be a cakewalk.

Gostaram?

Brincadeiras à parte, muita gente acolheu uma visão mecanicista da pessoa humana, como se fôssemos máquinas, simples efetuadores com tarefas a cumprir: aperta-se o botão e… funcionamos…

Especialmente no campo da linguagem, nossa comunicação envolve aspectos “humanos” que a máquina não consegue perceber nem transmitir. Ironias, trocadilhos, erros intencionais para provocar uma reação de riso, traços de afetividade que implicam o uso de uma palavra em lugar de outra, ou a adoção de diminutivos sem relação com tamanho e dimensão etc.

Quando estudei semântica, nos anos 70, diverti-me bastante com as “conjugações afetivas”. Exemplos:

– Eu tenho convicções firmes; você às vezes insiste demais; ele é teimoso como uma mula.

– Eu sou flexível; você cede fácil; ela é uma maria-vai-com-as-outras…

Esses matizes – ao menos até agora – a máquina não chega a perceber. E não é culpa dela. É uma questão de “limites”. Ou alguém vai me dizer que certa máquina não terá limites?

Escrever e traduzir não é apenas questão de gramática, de sintaxe, nem mesmo de léxico. A alma entre no jogo. Como distinguir entre flexível, cordato e frouxo? Não há algoritmo que consiga ressoar ao coração humano, pois a linguagem não é apenas uma função cerebral.

Os tradutores podem respirar tranquilos. Vamos sobreviver. Traduzir é recriar, levando em conta o texto e o contexto, o autor e seu tempo, a alma dele e a nossa alma.

De acordo?

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