Que vamos fazer com os “bandidos” presos?

Publicado por Antonio Carlos Santini 7 de novembro de 2025
mulheres presas

 

mulheres presas

Não posso mais ficar indiferente às preocupações de tantos amigos diante da situação dos “bandidos” no Brasil. Que fazer com esses indivíduos que tiram o sono de tanta gente?

Talvez – quem sabe? – uma olhadela em volta, no tempo e no espaço, inspire nossa possível ação com (ou contra?) essa numerosa população de foras da lei…

UM PRIMEIRO MODELO de ação nos vem da Indonésia. Este país adota atualmente uma política de tolerância zero com uma das legislações antidrogas mais rígidas do mundo. O tráfico de entorpecentes é um crime punível com a pena capital por fuzilamento. Dezenas de pessoas, incluindo cidadãos estrangeiros (como brasileiros), já foram condenadas e executadas no país por esse crime. A UOL informa que na Indonésia existem 413 pessoas no corredor da morte, sendo 275 condenadas por crimes ligados a drogas.

UM SEGUNDO EXEMPLO nos vem da França do século XVII. Na época, era comum que os condenados a trabalhos forçados fossem usados como remadores nos navios. São Vicente de Paulo foi o responsável pelas obras de caridade com os condenados às galés e se dedicou não só ao bem-estar físico deles, mas também à sua salvação espiritual, buscando levá-los à conversão.

Atendendo a um pedido do Padre Berulle, São Vicente tornou-se o preceptor dos filhos do general das galés, residindo no Palácio dos Gondi. Na época, a marinha francesa estava em expansão e, para resolver o problema da mão-de-obra necessária para o remo, adotava-se a condenação às galés por delitos comuns. São Vicente empenhou-se nesta missão, lutando por mais dignidade para estes prisioneiros, que viviam em condições sub-humanas. No trabalho em favor dos condenados às galés, ele chegou até a se colocar no lugar de um deles para libertá-lo.

Pode ser que este exemplo anime algum cristão a fazer algo parecido…

UMA TERCEIRA SOLUÇÃO também foi criação da cultura francesa. No século XIX, um padre francês – Jean-Joseph Lataste – que atuava como capelão em um presídio de mulheres, fundou uma congregação de freiras com ex-presidiárias. Era a Congregação Dominicana de Betânia (Sœurs dominicaines de Béthanie). A missão principal da ordem era acolher mulheres que haviam cumprido pena na prisão de Montfaucon, na França, e desejavam se dedicar à vida religiosa. O objetivo era oferecer a essas mulheres uma chance de redenção e uma nova vida em comunidade, longe do estigma social.

O carisma da congregação enfatiza a misericórdia e a reintegração social através da vida monástica. A obra de Lataste foi notável por desafiar as convenções sociais da época, que frequentemente rejeitavam ex-detentas. Ele foi beatificado pela Igreja Católica em 2012. Fica a sugestão para meus jovens amigos padres…

MAIS MODERNAMENTE, temos o sistema prisional sueco, que se destina a reabilitar, em vez de apenas punir. Em lugar de apenas remover os criminosos da sociedade pelo tempo que seus crimes justificam, eles recebem terapia, educação e treinamento, para poderem funcionar melhor quando voltarem.

A Suécia ajuda jovens infratores a reconstruírem suas vidas por meio de um programa de trabalho subsidiado focado em reconstruir sua confiança, preparando-os para o local de trabalho e ajudando-os a expandir suas redes sociais. Após quatro semanas os participantes são colocados em estágios em empresas locais antes de assumirem empregos de tempo integral subsidiados pelo Estado. Uma avaliação do esquema entre 2007 e 2009 revelou que os ex-infratores tinham mais de 40% de chances de encontrar trabalho em tempo integral do que aqueles que não participaram.

Já no Brasil, eu visitei, certa vez, o “cadeião” de Marabá, no sul do Pará, para levar uma mensagem do Evangelho aos presos. Ali, em cada cela para 3 detentos, estavam 30 empilhados. É sempre uma experiência muito rica poder pregar para “bandidos”. Quando prego para os doutores, eles dizem: “Muito interessante! Muito válido!” Quando prego para “bandidos”… eles choram…

O site “Outras Palavras” publicou matéria com notícias sobre o fechamento de quatro prisões suecas, que reabriram discussões sobre a forma como lidamos com os detentos no Brasil. A falta de presos no país nórdico é atribuída principalmente à forma de organização de seu sistema penitenciário, que conta com investimentos na reabilitação dos prisioneiros; adoção de penas mais leves em delitos relacionados a drogas; e revisões judiciais que optam por penas alternativas em alguns casos, como liberdade vigiada.

Bem, o assunto é complexo e não acaba aqui. Só peço licença para repetir o essencial: o “bandido” é meu irmão…

 

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