Os três adventos

Publicado por Antonio Carlos Santini 30 de novembro de 2021

Os três adventos

A cada ano litúrgico, a Igreja nos chama a contemplar o “advento”, ou seja, a “vinda” do Senhor. Sem dúvida, é uma preparação imediata para o Natal, mas podemos ampliar nossa visão, recordando que são três os adventos de Jesus Cristo.

O primeiro advento do Senhor foi anunciado longamente pelos profetas do Antigo Testamento – o “ro’eh” cuja visão penetrante transpunha as montanhas e os séculos. Um deles cantou, como se o futuro já existisse: “Pois nasceu para nós um Menino, um filho nos foi dado” (Is 9,5). E entrou em detalhes: “Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e lhe porá o nome de Emanuel [Deus conosco]” (Is 7,14).

A profecia se cumpriu mais de sete séculos depois, conforme registra o evangelista: “Ela deu à luz seu filho primogênito, envolveu-o em faixas e deitou-o numa manjedoura” (Lc 2,7). O outro testemunho veio de João: “O Verbo se fez carne e veio morar entre nós” (Jo 1,14).

Todos conhecem os fatos, é simples história: Jesus de Nazaré viveu 33 anos neste planeta, sob Pôncio Pilatos – não no Olimpo! -, isto é, no tempo dos homens. Cumpriu rapidamente sua missão: padeceu… foi crucificado… ressuscitou ao terceiro dia… subiu aos céus… É o que está registrado entre os mistérios do Símbolo dos Apóstolos.

O terceiro advento, depois falo do segundo, está projetado no futuro, embora anunciado desde a Ascensão de Cristo. Os apóstolos ainda olhavam para o céu, com uma nuvem ocultando aos seus olhos o Ressuscitado que voltava ao Pai, quando veio a notícia de uma Vinda definitiva. Dois “homens de branco” aparecem do nada e lhes dizem: “Esse mesmo Jesus, que do meio de vós foi elevado ao céu, VIRÁ assim do mesmo modo como o vistes partir para o céu” (At 1,11). É isto que rezamos no Credo: … subiu aos céus, de onde VIRÁ para julgar os vivos e os mortos.

Mas temos tempo para falar do segundo advento. Trata-se de uma verdadeira “vinda” de Cristo até nós, aqui e agora, neste tempo de espera pela Parusia e pela renovação de todas as coisas, com nova terra e novos céus (cf. Ap 21,1.5). Este segundo advento pode ocorrer de forma “sacramental”, no batismo cristão: nos sinais da água e do óleo, mergulhamos em Cristo e somos renovados em nossa natureza, em uma adoção filial.

Mas também ocorrer de forma não convencional, quando o próprio Jesus toma a iniciativa de invadir nossa pessoa. Foi assim com Saulo, na estrada de Damasco. Foi assim com o militar Charles de Foucauld, em um encontro com o Abbé Huvelin. Foi assim com o judeu Ratisbonne, quando Nossa Senhora lhe apareceu. Foi assim com o jornalista ateu André Frossard, ao entrar por engano em uma capelinha de freiras.

Neste tipo de advento, o Senhor vem para quem não o procura. Mas vem. Porque o amor não se contém, o amor se derrama, o amor é mais forte do que a morte, como garante o Cântico dos Cânticos (Ct 8,6).

 

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