Trinca de ases

Publicado por Wesley Pioest 1 de outubro de 2010

Lá vem pela calçada o poeta Bento

Vem para tomar seu chope domingueiro

E com quem ele esbarra na esquina?

Com o poeta Bira que já vem chegando

Para tomar a catuaba santa de cada dia.

Já começaram a trocar idéias e versos

E falar mal dos poetas que estão distante.

Eles conversam tanto que a garganta seca.

Então puxam as cadeiras, sentam à mesa

Tentam se esconder do sol forte de Itaobim.

E quem é que chega tropicando alegremente

Cantando fados para as musas invisíveis?

Quem? Não é outro senão o poeta Gonzaga

O mais arteiro poeta que pisou nesta terra

Que traz uma garrafa de pinga da boa

E que diz, faceiro, meus amigos, saravá,

Esta veio de Salinas e é temperada com raiz!

Aí os rapazes ficam alegres à beça e bebem

Encantados com as moças que estão a passar.

O poeta Bento adverte que não bebe pinga

O poeta Bira diz que, não sendo sólido, bebe

Mas que, sendo sólido, come, e de preferência

Torresmo. Todos concordam à esta altura.

O poeta Gonzaga não se avexa e proclama

Aos quatro ventos: então vamos misturar!

E eis que começam a misturar, e cai a tarde.

Quando chega a noite a bagunça está formada

E os poetas ousam divergir entre si em voz alta

Pois a pinga acabou e a cerveja está morna

Não há mais farofa nem torresmo ou catuaba.

Os ânimos se exaltam por qualquer bobagem

E olha lá o poeta Gonzaga sacando da peixeira!

Virge maria! O poeta Bento deu uma pernada

Já o poeta Bira catou uma lasca de lenha.

Você que nunca viu nervoso o poeta Bento

Nem queira ver, mais vale o fim do mundo.

Mas – Deus é pai – lá venho eu da minha serenata

E chego a tempo de evitar dois homicídios

Proclamo a paz, e os bardos pagam a conta.

Antes de ir, um brinde, aos amigos, a saideira.

Eu me esquivo, poeta esperto anda sozinho

E não aprecio a companhia dessa turma valente

Uma hora eu morro, mas não há de ser hoje.

Viver bem nesses tempos atuais é uma arte

Poetas, amigos, poemas à parte.

Comentários
  • Rozana / Belo Horizonte 4924 dias atrás

    É bem provável que o poeta Gonzaga tenha sacado a peixeira, não por valentia ou para amedontrar os companheiros, mas para fazer a encenação da poesia “PEGA A FACA JESUS E REPARTE ESSE PÃO”

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