Para mim e para vocês, neste Natal

Publicado por Wesley Pioest 21 de dezembro de 2020

Para mim e para vocês,

I
Dezembro é mês de fazer oferendas,
de rogar, de jogar as cartas da esperança.

II
Em poema premonitório de alguns anos,
feito em outro dezembro, abri o coração
e pedi ao Criador: quero o meu país de volta!
Era o meu desejo, continua sendo.
Mas o Criador não me ouviu ainda.
Chega sempre o fim do ano e renovo,
de alma limpa, a minha súplica aos céus
para que nos devolvam o país
no estado em que se encontra.
Pois eu quero, antes de bater as botas,
o país que ganhei arduamente e depois perdi,
que entrou pelos meus olhos adentro
no primeiro dia desta vida;
que alçou asas em meus ombros certa manhã
dos anos oitenta, vertido em palavra democracia,
pura poesia, adolescente como eu,
para mudar o destino das gentes e das cidades.
Não era dezembro, certamente outubro.
Nem bem nascia a nova era, já o levavam,
no bolso, já o surrupiavam, como o abismo
traga o horizonte, pouco a pouco.

III
Veio a elite amorfa, tirou o meu país de nós,
gananciosa, pérfida, como um vil meliante
que sucumbe ao dinheiro e sai a gastá-lo
furtivamente na satisfação de suas banalidades.
E assim foi, e assim vem sendo, e eu peço ao
Criador que me perdoe por querer esganar
essas criaturas de todos os matizes políticos,
corvos insaciáveis empoleirados nas tetas
do serviço público, nos palácios, parlamentos,
nas trevas que sobrevieram
àqueles dias gloriosos
em que marchamos pelas ruas
e ganhamos o velho país de novo
antes que esses crápulas o tomassem
como se fosse uma rapina.

IV
Talvez desta vez o Criador me escute, já que
é dezembro, fim de ano, e entenda que o logro
já foi longe demais e os sinos dobram.
Não é pedir muito. Apenas que afaste de nós
essas quadrilhas, esses estorvos, essas cruzes
ao longo do caminho já tão estreito.
Pode espalhar esses inúteis pelos campos,
pelas periferias mais esquecidas,
ou não – eu não me importo – não com eles.
Eu me importo com a minha alma,
eu quero o meu país para fazê-lo melhor,
com todas as minhas forças
pelo tempo que me resta,
um pouco a cada dia,
dia após dia.

V
No ano que vem, se Deus quiser (e há de querer)
terei motivos para agradecer.

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