Previsão do Tempo

Publicado por Sebastião Verly 6 de abril de 2011

Um dos meus orgulhos em relação ao meu velho pai, analfabeto de pai e mãe, era seu conhecimento da cultura popular. Havia muita coisa que ele dizia, eu contava até para a minha professora, gabando e garboso de tanta sabedoria. E por sorte, ela reforçava minhas palavras. As questões relacionadas com a agricultura impressionavam-me sobremaneira e confirmavam-se na maioria das vezes.

O plantio da manaiba, manaiva ou rama de mandioca era uma dessa demonstrações de conhecimento além do normal. Meu velho, olhava o tempo, escutava os grilos cantando, o calo dolorido no pé, a perereca coachando, os cupins aumentando seus murundus e dizia: ”pode picar a manaíba”. Ele nos ensinou a cortar pedaços das hastes da mandioca de mais ou menos um palmo, e só na hora de colocá-los na cova, repicar, fazer cortes leves para surgir o “leite” da rama.

Explicava-nos tudo em detalhes, para que fizéssemos com consciência nosso trabalho. O “leite” deveria ter o prazo de secar depois de coberto pela terra, antes que a chuva o lavasse. Era dali que nasceria a raiz que seria o alimento tão apreciado. Assim, plantávamos a rama de mandioca, ouvindo todos os anos que “não se planta mandioca” e sim a manaíba. Tudo era feito com atenção, num trabalho rápido e continuo.

Geralmente, lá para os fins de outubro ou meados de novembro, retirávamos daquele monte os galhos que havíamos guardado no decorrer do ano, sob a sombra de uma árvore bem copada e escolhíamos os mais robustos, cheio de gomos e ainda verdes.

“Era batata!”, como se dizia para um plano bem sucedido, dava mandioca de boa qualidade e em grandes quantidades. Para isso, ele previa, três dias antes, com precisão, a data da primeira chuva. E, não sei como, previa também as chuvas seguintes.

Sabíamos muito bem o dia de lançar todas as sementes das outras culturas na terra. E nossa colheita era sempre farta. Houve anos em que o veranico, aquele tresloucado período de estiagem, como o deste ano de 2011 que durou quarenta e tantos dias, e aí o jeito era replantar, especialmente o milho e o feijão.

Agora, tento acompanhar as previsões via Internet. Na semana passada, ligava o computador e logo “clicava“ no site da previsão em BH. Planejáramos para o dia 26, no parque ecológico da Pampulha, um grande evento para comemorar o dia da água, e, o serviço de meteorologia previa “pancadas” para aquele sábado. Eu, numa santa ingenuidade, pedi a Deus que não mandasse chuva, naquela manhã festiva.

Parece que eu estava adivinhando que teria muito sucesso nos trabalhos, como prova hoje minha foto no Diário Oficial, de 29 de março, com ares professorais, para o “aluno” Prefeito, com seu olhar atento às minhas explicações. O dia ensolarado, calor de fazer inveja nos cariocas, e mais de três mil pessoas ali ouvindo minhas exortações para a redução da quantidade de resíduos sólidos jogados para a coleta pública ou deixados em terrenos baldios, lotes vagos, córregos e nascentes.  A Lei 12.305 extinguiu o uso da palavra “lixo”. Em outra oportunidade voltarei a essa questão de suma importância para o futuro.

Não choveu e o serviço de meteorologia, novamente, passou a anunciar chuva para segunda e terça feira seguintes. No domingo, pesquisei novamente a previsão. Havia mudado para o dia 1º de abril e, depois, numa nova previsão, para 4 e 5 daquele mês. E o serviço especializado vai adiando seguidamente a esperança da famosa “enchente de São José”, que deveria ter vindo no dia comemorativo do santo, dia 19, ou a enchente das goiabas nos dias próximos anteriores ou seguintes.  Ou, ainda, mais “cientificamente”, no dia 20 ou 21 com “as águas de março fechando o verão.”

Chegou o outono e a tempestade esperada não veio. Guardarei as “excelências“ para rezar no ano que vem. Mas, só depois de pesquisar um pouco mais descobri a lógica das previsões. E parece verdadeira. Leia este texto, bastante elucidativo.

“Com a aproximação do inverno, os índios foram ao pajé perguntar:

– Pajé, será que neste ano teremos um inverno rigoroso ou será ameno?

O velho feiticeiro, vivendo tempos modernos, não tinha aprendido os segredos de meteorologia como seus ancestrais. Mas claro, não podia mostrar insegurança ou dúvida. Por algum tempo olhou para o céu, estendeu as mãos para sentir os ventos e em tom sereno e firme disse:

– Teremos um inverno muito frio… é bom prepararmos colhendo muita lenha.

No dia seguinte, preocupado com o chute, foi ao telefone e ligou para o Serviço Nacional de Meteorologia e ouviu a resposta:

– O inverno será muito frio.

Sentindo-se mais seguro, dirigiu-se a seu povo novamente:

– É melhor recolhermos muita lenha… teremos um frio muito forte.

Dois dias depois, ligou novamente para o Serviço Meteorológico e ouviu a confirmação:

– Sim… este ano o inverno será muito rigoroso.

Voltou ao povo e disse:

– Teremos um inverno muito rigoroso. Recolham todo pedaço de lenha que encontrarem, teremos que aproveitar os gravetos também.

Uma semana depois, ainda não satisfeito, ligou para o Serviço Meteorológico outra vez:

– Tem certeza de que teremos um inverno tão forte?

– Sim. Este ano teremos um frio intenso, nós temos certeza.

– Como tem tanta certeza?

– Os índios estão recolhendo muita lenha este ano.”

 

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