Comentários dos Leitores abril 2011 – parte 1

Publicado por Editor 25 de abril de 2011

de Jorge Pimenta sobre o artigo “A Tragédia de Realengo, a Justiça e a Não Violência”, de Milton Tavares Campos

Meu caro Milton Campos,

Seu artigo é muito interessante e concordo com suas observações. Gostaria de acrescentar alguns comentários:

– o assombro dos jornalistas e da opinião pública se dá por que estão muito acostumados em domonizar e criminalizar todos, ou melhor, tudo que parte da parcela mais pobre da população seja ela, autora ou vítima de violência, mas não se remetem a violência do Estado, da polícia, do capitalismo terrorista e sanguinário (vide invasões de países e intervenções inadequadas que não respeitam soberania dos povos em nome de ‘ideais democráticos civilizatórios da sociedade ocidental judáico-cristã-greco-romana;

– não falam da liberalidade de venda de armas, que nos EUA são vistas, como forma de auto-defesa (!) Será que queremos esse modelo? Certamente não!

– é muito fácil falar de psicopatia, de comportamento ou personalidade anti-social (classificações da psiquiatria que não respeita o sujeito e suas vicissitudes), mas não conseguem abordar a loucura e os desencadeamentos psicóticos, como se os psicóticos não fizessem parte da vida e do mundo.

Eles precisam de tratamento digno, não de hospícios como os Gulags soviéticos. Eles estão como qualquer um de nós, submetidos a situações que podem sim agravar as manifestações de sua doença. Qual situação: tem a seu dispor armas, munições, drogas etc. O que dizer às famílias. aos alunos, aos professores, à comunidade do Realengo? Não creio que colocar detectores de metal ou polícia (mais armamento) nas portas das escolas pode evitar casos como esse. Mas um desarmamento sim é eficaz. Se houvesse um policial armado na escola, provavelmente ele teria sido o primeiro a ser atingido. Esse rapaz já tinha dado e fornecido indícios precisos de sua situação crítica como doente mental, mas foi ignorado. Precisava de tratamento. Nem sempre podemos evitar o pior, mas nada foi tentado.

Psicóticos desencadeados ou não, não são débeis mentais, não estão no discurso, mas estão no código, falam, pensam e são perfeitamente influenciáveis pelo meio. Qual meio? O de uma sociedade consumista (de drogas, de armas, de m…) e podem se valer disso, mesmo que não consigam ter um discurso articulado. Ele W., não tinha laços sociais, mas sabia muito bem colher informações da internet (afinal um direito de todos) e se municiou disso para realizar o imperativo categórico de seus delírios. Vale a pena discutir: política pública de saúde (a mental, inclusive), política pública de educação, política pública de convivío social, política pública de paz… o que mais?

Saudações,

Jorge Pimenta
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Maria de Fátima

Companheiro, concordo com você plenamente. Muito bom seu artigo,e gostaria de acrescentar algo se me permite: assitindo um vídeo amador fiquei estarrecida, porque as pessoas que estavam de fora da escola não sabiam se o rapaz já estava morto ou se havia sido contido pelos policiais, invadiram a escola passando por entre corpos no chão, inclusive o dele. Os policiais ainda em estado de choque gritavam por ajuda, e tudo era confusão só. Imagina se o rapaz ainda estivesse com a arma na mão, como teria sido maior a tragédia? Não culpo os policiais, que no momento eram poucos, mas penso que as pessoas tinham que entender que alem de estarem colocando as outras crianças da escola em risco, elas também corriam risco de morte.

Maria de Fátima
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antonio carlos loco sobre o mesmo artigo

caro Milton hoje vejo o lutador que sempre me pareceu ser, falou bem quando disse que justos terão que conhecer armas para que elas ao cair em mãos de injustos terá alguém que não pensa como eles que pode lhes fazer frente, é o único meio de pará-los até que a justiça e educação e acesso ao trabalho for para todos .

O povo brasileiro ainda pensa que trabalho é castigo de Deus pois isto foi lhes infundindo como uma forma das religiões oprimirem para manter seus fieis.

Poucos gostam de trabalho honesto neste Pais.

Certo é que pessoas que tem familia ou então vivem uma vida comum estao se armando com medo do mundo injusto, mas veja bem este mundo esta entre nos desde os primeiros tempos dos homens,somos nos mesmo que o compomos,fazemos parte dele,só mesmo educando nos e melhor aprender-mos e nos sairemos bem destas situações.

Com certeza terrorismo é matar inocentes, e isto a OTAN faz bem ao ser mandada,

antonio carlos locô
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Sânia

Ontem e até hoje eu passei muito mal, esta tragédia do Rio me abalou. Crianças! Matar crianças. Como isto é possível?

Eu tbém cheguei a falar com meu filho sobre estes jogos eletrônicos onde se mata, mata…. Qto mais tiros se acerta mais pontos ganha. Dizem ser inofensivos… E os filmes de violência que são vendidos e consumidos diariamente na TV, no cinema.

O que se passa? Banalização cotidiana da violência. Que valores? Que vida?
Eu não sei o que pensar neste momento. Mas desta vez foi impossível não chorar, ficar indiferente. Me senti solidária e senti a dor daquelas mães. Seus filhos, nossos filhos. Madres, nós sabemos o valor da vida, sonhamos a paz e alegria para nossos filhos. Hj o Brasil, o mundo inteiro está de luto e perplexo! … …. Sânia
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Alexandre

Mas como esperar que os justos enfrentem, com alguma chance de sucesso, as estruturas de poder que promovem os maus?
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Mosart Mendonça

Belo artigo que você publicou! Cocordo inteiramente com você sobre a questão das armas e a violência.

Confesso que, quando do plebiscito pelo desarmamento, votei NÃO, e votaria novamente assim. Isto porque o poder público, infelizmente, não consegue fazer a segurança pública como deveria, e isso não ocorre apenas no Brasil, mas em qualquer país do mundo. Portanto, não acho justo que um pai de família não tenha o direito de ter uma arma em casa para tentar se defender, no caso, por exemplo de uma invasão por bandidos.

Portanto, o que temos que buscar, conforme você coloca, é o uso das armas para o bem e para a justiça, ao invés do uso para o mal, como elas são usadas hoje, na maioria dos casos. Não há como se defender de criminosos armados sem armas, como você cita muito bem o próprio caso da escola, em que o policial cessou a violência com o uso de sua arma.

Sobre o caso da escola de Realengo, acho difícil e até desnecessário tentar entender o que levou um louco a entrar na escola atirando. Pelos documentos e relatos encontrados atá agora sobre o assassino, está mais que provado que era um louco completamente fora da realidade. É muito difícil, senão impossível, tentar entender até onde a loucura humana é capaz de chegar. Tenho apenas uma observação, sobre um detalhe, que ainda não vi ninguém abordar. O criminoso chegou à escola dizendo que ia fazer uma palestra. Deixaram ele entrar sem confirmar com a Direção da escola se realmente ele estava sendo aguardado para fazer a palestra. Houve uma falha grotesca da Portaria da escola. Se tivessem barrado ele ali, ele poderia até atirar no Porteiro e entrar assim mesmo, mas com certeza o tempo e a tranquilidade que ele teria para o massacre seria bem menor, pois as pessoas na Rua já iriam perceber que estava acontecendo algo errado.

Muito obrigado e um grande abraço,

Mosart Mendonça, Advogado
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Marco Antonio

Oi Milton,

Conclusão: violência e matança generalizada e indiscriminada para os poderosos, pode, mas para os outros, fora do grupo citado, não pode!

Interessante o artigo, parabéns!

Abraços,

Marco
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José Aguinaldo

O grande problema Milton, é que a linha divisória entre justos e injustos é bastante tênue. Muamar Kadafi pensa ser justo. Obama também. Nós idem.

Quem ficará com as armas?
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Meire

Não há dúvidas de que vivemos sobre a égide da indústria da violência vendida em filmes, novelas, propagandas e influenciando as relações humanas como se vivêssemos uma guerra de todos contra todos e onde obviamente “vence” aquele que leva vantagens mesmo que subjetivas. É preciso lembrar que o povo votou pela continuidade do comércio de armas no Brasil porque a insegurança é generalizada e o Estado não investe em políticas públicas sociais e de segurança pública de forma adequada. Antes porém, dá mal exemplo, pois a impunidade começa com a permissividade da corrupção.

Parabéns pelo artigo.
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Mário

A Inocência dos games em livros!

Sugestão: O Livro “Violência nas escolas, um guia para pais e professores”, do núcleo de pesquisas sobre violência da Usp,
INOCENTA OS GAMES e diz q é irresponsável associar game e violência.
Outro livro: Brincando de matar monstros, de Gerard Jones…
Outro livro: Game over, videogames e violência, de Lynn Alvez, inocentando os games.

O documentário Tiros em Columbine tb inocenta os games!

Uma das maiores pesquisadoras do Brasil, Lúcia Santaella, tb inocenta os games, assim como o ex-ministro Gilberto Gil, q afirmou q os games sofrem com os mesmos preconceitos q foram feitos à TV.

Outro livro fundamental: a Cultura do Medo, de Barry Glassner,
q tb inocenta os games.

Não acho muito ético lançar vinculações estereotipadas
em momentos como esse, sendo q os psiquiatras têm alertado justamente para isso. Um doente mental cria um mundo só dele, deturpando tudo
q existe ao redor….

Crimes assim ocorriam antes do surgimento da internet e dos games…
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Eny

Milton, penso que todas essas tragédias que vem ocorrendo no Brasil (e no mundo) sejam por falta de AMOR. A falta de amor gera desrespeito, isolamento, falta de zelo, carencia de educação, cultura, solidariedade e, principalmente, desagregação familiar. Quando o AMOR sai não se enxerga Deus… E aí tudo de ruim começa a reinar…

boa matéria,

abs, Eny
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José Roberto sobre o mesmo artigo

Milton,

Muito interessante e instigante seu texto.

Embora possa não parecer sou adepto da Não violência, mesmo qdo muitas das vezes fazem de tudo para nos tornar violentos.

Jamais permiti ou incentivei meus filhos (03) a entrar para academias de “defesa pessoal”, pois pode até ser defesa mas gera no ser humano um desejo de ataque há isso gera.

Vivemos um cotidiano onde todo tipo de violência é perpetrado nas diferentes situações e provável que alguém sem estrutura ou mesmo se sentindo violentado, como parece ser o caso do Realengo, possa decidir por se rebelar com uso dessa mesma violência.

Abraços

Catraca
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Suzelita

Milton, boa Noite,

estou ainda em estado de choque, talvez tão muda quanto os educadores e o quadro de funcionários daquela escola que até o momento não conseguiram se expressar. Sei que é momento para aprender.

Wellington estudou naquela escola o ensino fundamental todo, 8 anos.
Quem sabia dos seus sonhos, dos seus heróis, da sua dor, das suas alegrias.
o menino que não incomodava.

Quantos meninos iguais a ele existem por ai? Como evitar que outras tragédias se propaguem?

Assim que eu consegui parar de chorar lhe mando minha opinião.

um abraço

Suzelita
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Satyam

Falar em arma é falar em violência. Usar uma arma é ser violento. O homem que atirou nos jovens tinha que ser parado. Uma ação violenta, mas necessária. No momento não se trata de algo justo ou injusto. Não há tempo para fazer este tipo de julgamento. O homem tinha que ser abatido e pronto. Depois, é claro, o desespero e a desorientação que se seguem a estas tragédias.

Falar em não-violência é falar em algo ideal, o que não é a realidade. Para compreender melhor esta questão, temos que focar no fato, a violência, e não no ideal, a não-violência. E para isso, é necessário, primeiro, investigar essa violência em nossas ações e verificar como contribuímos para toda esta violência que presenciamos em todo o mundo.

Você escreve que precisamos nos transformar em pessoas justas interiormente. Sim, sem dúvida. Mas o que fazer para isso sair do campo das boas idéias?
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Sânia

Olá Milton,

Li seu texto e acho que você coloca importantes questões e situa a violência de forma bem ampla.

Entretanto não consegui entender quando você cita e concorda com a seguinte afirmação: ”Alguém, cujo nome não me recordo teve a imensa lucidez e coragem de dizer que a verdadeira Não Violência só será conquistada quando os justos forem violentos e monopolizarem o uso das armas. Se os justos desconhecerem a existência das armas, estas cairão na mão dos injustos. É preciso que os justos sejam violentos para conter a violência dos injustos.”

Acho que esta idéia é muito confusa. Quem é que define quem são os justos e quem são os injustos? Você leu a carta que este psicopata escreveu sobre os puros e impuros? É uma auto definição que me permite ser violenta porque sou justa? Ser violento e ser justo na minha compreensão são dois atributos incompatíveis. Uma das causas da violência ou uma forma de justificá-la é esta: a minha ideologia, a minha religião, a minha moral e valores (que é a mais justa!?) e não tolera a dos outros.

Neste portal, o editor publicou trechos do pensamento de Gandhi e neste momento vale recordá-los:

“Nunca perca a fé na humanidade, pois ela é como um oceano. Só porque existem algumas gotas de água suja nele, não quer dizer que ele esteja sujo por completo.”

“Como defender uma civilização que somente o é de nome, já que representam o culto da brutalidade que existe em nós, o culto da matéria?”

“A não-violência e a covardia não combinam. Posso imaginar um homem armado até os dentes que no fundo é um covarde. A posse de armas insinua um elemento de medo, se não mesmo de covardia. Mas a verdadeira não-violência é uma impossibilidade sem a posse de um destemor inflexível.”

“A não-violência nunca deve ser usada como um escudo para a covardia. É uma arma para os bravos.”

“De olho por olho e dente por dente o mundo acabará cego e sem dentes.

“Devemos expandir o círculo do nosso amor até que ele englobe todo o nosso bairro; do bairro, por sua vez, deve desdobrar-se para toda a cidade; da cidade para o estado, e assim sucessivamente até o objeto do nosso amor incluir todo o universo.”

“O amor é a força mais abstrata, e também a mais potente que há no mundo.”

“Só podemos vencer o adversário com o amor, nunca com o ódio.”
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Edinaldo R. de Mendonça – Pacato

Milton. Li não só sua reportagem a qual considero válida e boa, porém, sigo nos PENSAMENTOS de SANIA, SATYAN e ENY que consideram a violência como falta de AMOR. O justo, sem amor, deixa de sê-lo. Violência gera violência. O que se torna necessário, é termos políticos honestos e que lutem para que o povo receba orientação não só dos pais, mas um aprendizado nas escolas de todos os níveis, de respeito, educação além das de berço, dando para todos envolvidos o direitos de assim procede-lo, com novas Leis, devolvendo assim o poder de pais e mestres, educarem seus filhos e alunos e tirando destes filhos todos os direitos de liberdade, hoje oferecida. Não defendo o direito de espancar, mas o de educar. Abs Pacato
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Maria Kátia sobre o mesmo artigo
Me senti provocada pelo comentário da Sânia acima: “Ser violento e ser justo na minha compreensão são dois atributos incompatíveis.”

Para penetrar nesse imaginário humano tão fundo preciso recorrer à literatura mineira e brasileira. Vou citar o melhor romance e o melhor conto que já li: Grande Sertão Veredas, e A Hora e a Vez de Augusto Matraga, este é o último conto do livro Sagarana, ambos de Guimarães Rosa.

Primeiro cito Diadorim, que teve que se vestir de homem e se tornar justiceiro para acertar as contas com Hermógenes, que assassinou seu pai covardemente. O Bando de Riobaldo do qual Diadorim fazia parte se dissolveu depois que Diadorim e Hermógenes se matam em um duelo, assistido à distância pelos dois bandos que respeitaram o direito de buscar justiça de Diadorim e o direito de tentar continuar vivendo de Hermógenes.

O outro conto, posso dizer que foi a obra literária que mais marcou minha personalidade, por mostrar como uma pessoa violenta e injusta, como Augusto Matraga, pelo sofrimento espiritual se tornou um violento justo, e ao final de sua vida, morre como Diadorim, em um duelo com um bandoleiro que praticava atrocidades contra um comunidade indefesa.
Esses dois personagens são ambos justiceiros, ou seja pessoas que sacrificaram suas vidas para conseguir um ideal de justiça representado pela eliminação necessariamente violenta de pessoas injustas, sanguinarias e inescrupulosas. No entanto eles deram a vida por uma causa vitoriosa.

Mas esses valores são muito difíceis de serem aceitos em nossa mentalidade cristã, pois o próprio Cristo, e com ele os santos da Igreja Católica foram martirizados, pessoas que se ofereceram para morrer barbaramente para deixar um testemunho milenar contra as injustiças.

O maior herói brasileiro, Tiradentes, também foi um mártir, que morreu derrotado, mas deixou um exemplo de sacrifício. Podemos citar também Che Guevara, Lamarca e muitos outros mitos de nossa tradição de culto ao martírio e ao sofrimento, que norteia a mentalidade da grande maioria.
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Mauricio sobre o mesmo artigo

Maria Kátia, não é difícil entender porque o Brasil, Gigante Pela própria natureza vive Deitado eternamente em berço explêndido.

Entre os países cristãos na Europa e América os que mais desenvolveram foram os de religião protestante, que oferece a Teologia da Prosperidade. Os países católicos, veja a América Latina, são todos subdesenvolvidos, dominados por esta Teologia do Martírio.

Não é difícil entender porque as religiões evangélicas se expandem rapidamente, tomando o espaço antes pertencente à Igreja Católica.
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Fernando Lelis sobre o mesmo artigo

“A justiça é a vingança do homem em sociedade, como a vingança é a justiça do homem em estado selvagem.”
Epicuro, filósofo grego.

Com esta frase tento responder ao José Agnaldo acima, que pergunta o que é um homem justo. Se somos civilizados não podemos responder a um ato injusto pela emoção momentânea, mas pelo aperfeiçoamento da nossa civilização, de nossas leis, de nossa educação, de nossas regras de convivência social.

Muitos políticos oportunistas agora querem aproveitar o momento de trauma na opinião pública para reeditar o Plebiscito do Desarmamento, ou campanhas “Entregue sua arma”. Falam em proibir o comércio legal de armas. Ora, as armas dos bandidos não são compradas no comércio legal, mas no ilegal.

Se queremos acabar com o comércio ilegal de armas temos que moralizar a polícia, e para moralizar a polícia temos que moralizar o Estado, e para moralizar o Estado temos que moralizar a Política.

Moralizar a Política, moralizar a Polícia, fortalecer nosso Estado e nossa Civilização, este sim é o caminho para acabar com a violência e o banditismo.
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Carlos Bittencourt Almeida sobre o mesmo artigo

Milton reli teu artigo agora e os comentários publicados. Em linhas gerais concordo com tua posição, embora o assunto seja explosivo e polêmico. Acho difícil alguém discordar da atitude do militar que chega e mata o assassino. Ou, se alguém discorda, gostaria de saber que atitude sugere diante da situação de um homem armado dentro de uma escola alvejando todos. Nem sempre é possível concordar com Gandhi. O que este jovem fez em escala reduzida é o que Hitler fez em ampla escala. Teve que ser combatido em seu próprio terreno, ou seja através das armas e do combate.

Existe uma compreensível confusão entre o uso de meios de destruição, punição, coerção e o ódio. Por estranho que possa parecer acho que o ideal não é propriamente a não violência mas a ausência de ódio. Pode-se matar sem ódio. Será que este militar que alvejou o rapaz teve tempo de sentir ódio ? Ou pode ter feito o que fez para proteger os jovens ? Ou será que sentir ódio seria a única possibilidade para ser capaz de matá-lo ?

Já comentei num artigo que o que qualifica nossos atos são nossos motivos e sentimentos. Posso punir uma criança com ódio, raiva, ou posso usar da mesma punição com amor, como ato educativo, em prol do bem dela própria. O efeito sobre a criança será totalmente diferente dependendo do motivo. Converso com muitas pessoas que foram vítimas, na infância, de castigos corporais por parte dos pais. A revolta existe quando as agressões eram injustas ou fora de proporção. O castigo justo, mesmo se severo, não gera amargura, ódio, revolta – falo do caso do adulto que contempla sua história muitos anos depois. Na hora, mesmo quando o castigo é justo, ninguém agradece, ninguém gosta de apanhar.

Acho indubitável que o cinema, a TV e muitos jogos de computador são estimulantes da violência. Da mesma forma muitas práticas de luta. Tudo depende da atitude de quem ensina. Tudo depende do sentimento de quem luta. Pode-se lutar sem ódio, derrotar sem ódio, mas onde estão os professores capazes de inspirar tal atitude, ou seja, capazes de vivê-la ?

Por absurdo e chocante que possa parecer este jovem assassino transforma em atos, impulsos que, num grau em geral, muitíssimo menor, existem em todos nós. Quem nunca desejou vingança contra alguém que lhe fez uma injustiça ? Já ouvi de algumas pessoas: ‘Hoje estou com muita raiva. Não quero que isto fique dentro de mim, preciso descarregar em alguém, senão vai me fazer mal. ‘ Tem pessoas que acham, que se estão infelizes, alguém tem que pagar por isto, mesmo que seja um inocente. ‘Se eu não posso destruir quem me ofendeu, agrido outra pessoa e isto já me alivia’. Alguém já observou o quanto certas pessoas ‘bem humoradas’ adoram fazer piada à custa de outros, ferindo com palavras, constrangendo, humilhando em público ou privadamente ? Frequentemente são atitudes de ódio, camufladas em ‘brincadeira’. O sadismo destas condutas, multiplicado por mil é o que aparece no terrorista, no torturador, no assassino de inocentes.

Outro dia ouvi de uma conhecida: “Fulano fez um curso de como humilhar as pessoas’. A semente do ato deste jovem assassino não é rara de se encontrar dentro da humanidade. Poucos deixam que ela cresça tão grande, ou estão dispostos a matar ou morrer para se vingarem contra seus semelhantes pelo fato de serem infelizes. É preciso uma imensa vigilância para não permitirmos que nossa tristeza, frustração, sentimento de inferioridade, inveja, transborde em direção a nossos semelhantes em atos de irritação, vingança, humor sádico, critica maldosa. Ainda falta muito para que sejamos incapazes de agredir injustamente quem está ao nosso lado.
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Sânia sobre o mesmo artigo

Lendo estes vários comentários, percebo a nossa perplexidade diante do que ocorreu. Alguns caminham na direção mais sociológica e das políticas públicas. Outros interrogam nossa condição humana, nossas luzes e nossas sombras.

Percebi também que não fui clara no meu comentário se deixei a idéia de que questionei a atitude do militar que entrou na escola e impediu que o número de vitímas fosse ainda maior. Não acho que ele agiu com violência, mas com justiça, pela defesa de vidas. O que eu questionei foi esta idéia de que os justos tem que ser violentos e e monopolizarem o uso das armas.

Compreendo que esta polêmica é complexa.

Sânia
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Clara Selma Muniz Ribeiro sobre o mesmo artigo

Caríssimo Milton.

Seu texto propõe mais reflexões sobre a tragédia de Realengo. Sua discussão é ampliada e remete a condicionantes históricos, o que nos faz observar que a sociedade se reconstrói à medida em que ela é cobrada.

Penso que TODOS os motivos acima citados são válidos na tentativa de explicar o porquê do irreparável acontecimento, ou seja, o bullyng, o preconceito, o isolamento, o homossexualismo, a acessibilidade às armas, enfim, foi uma construção de fatores indutores de uma personalidade perversa e doentia. Perversa porque ele escolheu quem não tinha possibilidade de defesa. No entanto, para o indivíduo aquele espaço era o palco definido e planejado. Porém, há que se observar dois grandes instrumentos facilitadores deste hediondo crime: a arma e a internet, porque uma o levou a outra.

Solução? As políticas públicas de segurança, saúde e educação devem ser transversais. Estas ações conjuntas se implantadas poderão diminuir o sentimento de insegurança da sociedade. Lamentavelmente, nada irá trazer aquelas crianças de volta à vida.

Clara Selma-Socióloga e especialista em Políticas Públicas.
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Mauricio

Enaltecendo aqui os espaços democráticos criados pela internet, que as outras midias não criam, temos aqui nesta página o exemplo de contribuições de diferentes campos de conhecimento que se entrelaçam, mas quero realçar o comentário do psicólogo Carlos Bittencourt, de cujos artigos sou assiduo leitor.

Ao constatar que o policial que matou o atirador agiu com violência extrema, afinal de contas tirou uma vida humana, mostrou que esta violência era também extremamente necessária e justa.

Desta forma Carlos, você desbancou dois mitos com uma única penada, Gandhi e Luther King, que esconderam sua fraqueza, pelo menos momentânea, difundindo o conceito de Não Violência como se a violência fosse um mal em si e não o seu uso por pessoas injustas ou insanas.
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Fernando Lelis

Mauricio, com o clima da tragédia cada grupo tenta tirar algum proveito. José Sarney quer desenterrar o Plebiscito do Desarmamento. Querem desarmar ainda mais os cidadãos honestos. Na realidade as elites temem as pessoas do “povão”, que eles não controlam, eles que andam em carros blindados rodeados de seguranças pagos com nosso dinheiro.

Mas o povo brasileiro vai dizer outro NÃO sonoro na nova “consulta”. E estas elites são constituidas de jornalistas, religiosos, políticos, empresários, que podem pagar por sua segurança e temem o povo pobre, a quem confundem oportunistica e preconceituosamente com a marginalidade.

Cabe a nós usar a internet para mobilizar e conscientizar o povo brasileiro contra estas elites encasteladas e blindadas, e defender o nosso direito de defender nossas vidas, de nossas familias e outros inocentes.
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Waldo Silva

Prezado Milton,

Já há alguns dias que li seu texto sobre os acontecimentos de Realengo. Como estou fora de casa não posso respondê-lo, mas queria observar-lhe que, prima sobre todos os outros elementos reunidos, uma coisa que poderia chamar de “custo natureza”. São relaçoes sociais e culturais (Bruce Willis), certamente, mas antes de tudo são heranças ligadas à nossas origens darwinistas e à nossas inclinações freudianas.
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Helma sobre o mesmo artigo

“nos transformarmos em pessoas justas sem desconhecer a existência das armas e da violência.”

Quem sabe se no dia em que os grandes formadores de opinião de massa apoiarem outro paradigma, em que o respeito à vida seja o caminho significativo para divulgar, comentar todo e qualquer ato de violência no sentido de coibi-la e não banalizá-la, suavizando o seu efeito sobre a VIDA e na busca do culpado, encontrará justificativas que o fazem vitima do sistema… cai no esquecimento dos meios de comunicação e da maioria…?

É meu caro Milton! A massa para encontrar o seu senso de ser justa, cônscia de sua missão de guardiã da vida terá que construir um sentido de valor para si (para não adoecer), pois está perdida de si mesma, refém do que vê e escuta. Ou quem sabe já não está começando a questionar o que tem valor, enquanto está viva, com tantas tragédias?
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Maria do Carmo Utsch Moreira R. Nunes sobre o mesmo artigo

Caro Milton Tavares,

Devido à correria do dia-a-dia, só agora, nos Feriados, estou comentando seu artigo, embora o tenha lido imediatamente.

Considero seu artigo muito bem escrito. Foi com grande discernimento e lucidez que você abordou a questão. A meu ver,foi uma das melhores análises feitas sobre a lamentável tragédia na periferia do Rio de Janeiro.

Você foi feliz ao fazer uma analogia de como essa tragédia da morte de crianças e adolescentes comoveu a Nação, mas tragédias como esta – a matança de crianças e de população civil ocorre atualmente nas “Guerras localizadas” e a sociedade ainda não se indignou suficientemente contra isto; e de resto contra todas as outras formas de exarcebação da violência. Foi também muito oportuna a menção que você fez à banalização da violência através do cinema, da mídia e jogos de R.P.G.

Parabéns pelo artigo e pelas brilhantes análises e vai me desculpando pela demora do meu comentário.

Maria do Carmo.
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Verly sobre o mesmo artigo

Reproduzo aqui um texto muito interessante sobre o mesmo assunto:
Extraído do Viomundo, Blog do Azenha:
(…)

A tragédia no Realengo, a meu ver, pode e deve ser início de um debate importante sobre a nossa sociedade.

A tragédia na escola do Rio de Janeiro acontece num contexto bastante relevante. Em outubro de 2009, Geyse Arruda foi hostilizada por seus colegas de faculdade porque, segundo eles, ela não sabia se vestir de modo “apropriado” para freqüentar as aulas. Em junho de 2010, Bruno, goleiro do Flamengo, é suspeito de matar a ex-namorada, Elisa Samudio, por não querer pagar pensão ao filho. Suposta garota de programa, Samudio foi hostilizada na opinião de muitos brasileiros. Após rompimento, Mizael Bispo, inconformado, mata sua ex-namorada Mércia Nakashima em maio de 2010. Em novembro de 2010, grupos de jovens agridem homossexuais na Avenida Paulista, enquanto Mayara Petruso incita o assassinato de nordestinos pelo Twitter. E mais recentemente, em cadeia nacional, Jair Bolsonaro faz discurso de ódio contra homossexuais e negros. Tudo isso instigado e complementado pelo discurso intolerante, preconceituoso, conservador e mentiroso do candidato José Serra à presidência da República. A mídia? Estava ao lado de Serra, corroborando em suas artimanhas, reforçando preconceitos contra Dilma, contra as mulheres e contra os tantos mais “adversários” do candidato tucano.

Wellington matou mais meninas na escola carioca. Se, por um lado, jamais saberemos as reais razões que o fizeram agir dessa forma, por outro sabemos o quanto a sociedade brasileira tem sido, no mínimo, indulgente com atos de intolerância, machismo, ódio e preconceito contra mulheres, negros e homossexuais. Se não há uma ligação direta entre esses diversos acontecimentos, eles pelo menos nos fazem pensar o quanto vale a vida de alguém em um contexto de tantos ódios? Quantas mulheres morrerão hoje vítimas do machismo? Quantos gays sofreram violência física? Quantos negros sentirão declaradamente o ódio racial que impregna o nosso país? O que é o bullying se não o prolongamento para a escola desse tipo de mentalidade? Quantas pessoas apoiaram as declarações de ódio de Bolsonaro via Facebook? Aquilo que acontece no ambiente escolar nada mais é do que um microcosmo do que a sociedade elege como valores primordiais. E o Brasil, que por tanto tempo negou a “pecha” de racista e preconceituoso, vê sua máscara cair.

Não adianta culpar o bullying, achando que ele é um problema de jovens, um problema das escolas. Não adiante grades e detectores de metal nas entradas ou a proibição da venda de armas. Como professora, sei que o que os alunos reproduzem em sala nada mais é do que ouviram da boca de seus pais ou na mídia. Não adianta pedir paz e tolerância no colégio enquanto a mídia e a sociedade fazem outra coisa. Na escola, o problema do bullying é tratado como algo independente da realidade política, econômica e social do país. Mas dá pra separar tudo isso? Dá pra colocar a questão só em “valores” dos adolescentes, da influência do malvado do computador ou dos videogames? Ou é suficiente chamar o ato de Wellington de uma “violência pós-moderna” sem explicação? Das muitas agressões cotidianas, a da escola do Realengo é apenas uma demonstração da potencialidade de nossos ódios.

A única coisa que me pergunto é: teremos a coragem de fazer esse tipo de discussão?

Ana Flávia C. Ramos é professora, historiadora pela Unicamp
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