E o mundo mudou…

Publicado por Carlos Scheid 6 de novembro de 2015

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Quando eu era criança, se alguém falasse sozinho na rua, era manietado e, após a devida embalagem na camisa de força, mandado para internar em Barbacena. Hoje, milhões de pessoas falam sozinhas, na rua, e todos acham normal. Falam ao celular, a maioria.

Mas não é por isso que o mundo mudou. Acabo de ver a entrada em campo da seleção sub 17 da Inglaterra. Dos onze atletas imberbes que representam o bravo povo anglo-saxão, sete são negros, apenas um garoto louro. Em lugar dos tradicionais Miller, Jones e Taylor, entraram em campo Ogbo, Kazaiah, Mavididi e Suliman, o árabe.

Pois é. A terra da rainha não é mais a mesma. E logo ao lado, temos a Alemanha turca de Özil, a França argelina de Benzema, a Itália ganesa de Balotelli e assim por diante. Ingleses negros e franceses islâmicos deitam por terra os velhos modelos que ainda insistem em condicionar nosso modo de pensar e de reagir ao real. É hora de desconfiar de nossas visões…

Os mapas mentais que herdamos da família, os conceitos que acumulamos na escola, as teses de nossos pensadores, tudo escorre pelo ralo do tempo, esse vórtice que flui para o futuro. Impiedosamente.

No miolo de um minúsculo pen drive, o texto de 500 livros. Um clique na tecla, e a imagem da face oculta da Terra. Separados por milhares de quilômetros, executivos participam de uma teleconferência. Se alguém se lembra da fita perfurada do primeiro telex, deve estar rindo neste momento. Sim, a mudança ri de todos nós.

Desde as cavernas, mesmo em tempos de nomadismo, o homo viator ansiava por certo grau de estabilidade, por um terreno onde acampar, um estilo de vida que lhe desse a ilusão de equilíbrio. O sonho acabou. Mesmo nos mosteiros de contemplativos, a tela do computador se fez presente para emitir mensagens brotadas do silêncio.

Hoje, mais que em qualquer outra fatia do tempo dos humanos, a sensação de “passagem” domina o mundo, o mármore trinca ao sol, o bronze torna-se pastoso e – como profetizou Horácio, antes de Cristo – et volat irrevocabile tempus… Foi-se o tempo em que os móveis passavam dos avós aos netos: eram móveis imóveis. Agora, em clima de one way, o próprio homem se sente descartável e vê seus órgãos substituídos por próteses de titânio.

Contudo, indiferentes ao tempo, permanecem no âmago do ser as três perguntas incômodas – aquelas poucas que vale a pena responder: quem sou? de onde venho? para onde vou?

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