Bernardo Riedel, o Professor Pardal brasileiro

Publicado por Afonso Machado 16 de setembro de 2009

O professor Bernardo Riedel é filho de uma família judaica, o pai Mauricio Riedel, natural de Lodz, na Polônia e a mãe Paula Fuhrmann, natural de Kecskemét, Hungria. Eles chegaram ao Brasil em 1930, e depois de tentar viver no Rio de Janeiro, que acharam muito quente, foram para São Paulo que acharam muito úmido, e terminaram por escolher o clima suave de Belo Horizonte.

Os avós maternos e alguns de seus tios morreram nos campos de concentração nazistas, bem como parte dos parentes paternos. A mãe costumava contar as histórias de penúria e desespero dos pais dela durante a primeira guerra mundial, quando o império austro-húngaro foi derrotado por franceses e ingleses. A família da mãe mudou-se para Lodz na Polônia onde ela conheceu seu futuro esposo. De lá, onde sentiam o crescimento dos sentimentos anti-semitas vieram para o Brasil onde se casaram e tiveram sete filhos.

O professor Bernardo, que é o 6º dos sete, tem uma meio-irmã e uma sobrinha que vivem em Israel. Em Belo Horizonte conheceu Dona Elza, que veio de Itambacuri onde estudou em um colégio de freiras. Casaram-se e tiveram dois filhos, Rafael e Sarita. Dona Elza se converteu ao judaísmo e hoje, além de ser regente do coral, é uma das maiores animadoras da principal Sinagoga de Belo Horizonte.

Por influência da família, Bernardo formou-se em farmácia e bioquímica pela Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG, aonde veio a ingressar como professor em 1970. Mas sua paixão sempre foi a astronomia e de 1977 a 1998 atuou como ótico do Observatório Astronômico Frei Rosário, OAFR, na Serra da Piedade, município de Caeté, Região Metropolitana de Belo Horizonte, onde se aposentou como diretor.

As invenções começaram cedo para Riedel. Em 1953, aos 13 anos, num acampamento de escoteiros, ele apaixonou-se pelo céu e construiu seu primeiro telescópio, uma estrutura quadrada feita de caixote de madeira. Bernardo Riedel, o Professor Pardal brasileiro

O Professor Riedel é hoje considerado pela comunidade científica como um dos principais especialistas brasileiros na construção de telescópios. Seu primeiro telescópio foi construído no ano de 1954, período em que associou-se ao Centro de Estudos Astronômicos de Minas Gerais (CEAMIG).

Em 1978 fundou a B. Riedel Ciência e Técnica, em Belo Horizonte, com o objetivo de fabricar instrumentos astronômicos de alta qualidade, como telescópios, cúpulas, lentes, espelhos, filtros e acessórios diversos ligados à astronomia.

Detentor de tecnologia de ponta, e desenvolvedor de diversas técnicas originais na produção de telescópios amadores e cúpulas, o Professor Bernardo Riedel é carinhosamente apelidado pela comunidade astronômica como o Professor Pardal brasileiro.

A fábrica por dentro:

 

Participou de quase todos os movimentos para divulgar e incentivar a astronomia em Belo Horizonte e Minas Gerais, incluindo o que culminou com a criação do Observatório Astronômico da Serra da Piedade e das tentativas de implantar o planetário de BH.

Em 1995 iniciou um programa de implantação de Observatórios Astronômicos no Brasil, fabricando cinco cúpulas e em um deles o telescópio. Há um Observatório Astronômico no Piauí que leva seu nome e em Baturité, Ceará, é o presidente de honra do Clube de Astronomia local. Vem participando também de grupos que estão trabalhando na restauração e manutenção de observatórios já existentes em todo o Brasil, visando mantê-los operacionais.

Em sua fábrica, a “B Riedel Ciência e Técnica Ltda”, localizada do Bairro Horto, em Belo Horizonte, telescópios sofisticados nascem por meio de máquinas construídas a partir de motores de sorveteiras, polias de máquinas de costura, mecanismos hidráulicos de cadeiras de dentista, eixos “sem-fim” de assadoras de frango, bomba de vácuo da Força Aérea americana, correias de copiadoras e outras geringonças. Seu maior orgulho é a câmara de vácuo que foi da fábrica de válvulas que a RCA Victor manteve na Cidade Industrial de Contagem até a década de 60. Antes de entrar na câmara de vácuo para ser transformada em espelho de telescópio, a lente é aquecida num antigo forno de pizza.

Bernardo Riedel, o Professor Pardal brasileiro

O escritor e poeta argentino Jorge Luís Borges dizia que o céu devia ser muito parecido com uma livraria, onde sua imaginação fervilhava. O professor Bernardo Riedel diverge. Acha que o céu deve ser como um ferro-velho onde consegue as preciosidades que põe para funcionar em sua fábrica da Rua João Carlos.

O telescópio que o professor fabrica é do tipo refletor, e consiste em um tubo que tem ao fundo um espelho convexo ou convergente, que, através de um prisma joga a luz captada do céu em uma pequena lente afixada na lateral do tubo, chamada ocular, que tem um pequeno regulador de foco, conforme a distância do objeto observado. Seus tubos variam de 90 cm a 2 metros e meio de comprimento e o diâmetro de 10 a 25 cm, que é um pouco maior que o dos espelhos.

O professor afirma ter gasto com as invenções todo o dinheiro da venda de sete imóveis. Hoje ele tem cinco funcionários e se prepara para montar, na laje do galpão, um centro de observação celeste aberto ao público. Já obteve a cooperação da Cemig, companhia de energia, que colocou um anteparo para que a luminária do poste em frente à fábrica não ofusque seu terraço de observação. Mas um dos problemas de seu observatório é a proximidade do Estádio Independência. Quando tem um jogo de futebol à noite, a iluminação do Independência inviabiliza as observações.

Os telescópios da B. Riedel custam entre R$ 800 e R$ 3 mil, dependendo do tamanho, sofisticação e acessórios, e todos os anos quando passa o período chuvoso ela monta uma turma de alunos que ao final acabam lhe encomendando alguns telescópios. Mas o que mais impressiona são as imensas e sofisticadas cúpulas, como a que ele está terminando de construir para um observatório particular em Bragança Paulista, no estado de São Paulo com 5 metros de diâmetro.

Bernardo Riedel, o Professor Pardal brasileiro

A burocracia e a falta de recursos, reclama ele, empurram os espíritos criadores para fora do País. “Nas universidades americanas, uma idéia começa a ser executada em um mês. Aqui, demora anos para sair do papel, quando sai!”. Quando tem oportunidade o professor reclama da falta de apoio que os empreendedores têm no Brasil, e evidentemente da falta de sensatez dos órgãos fiscalizadores, que lhe tomam boa parte do tempo e do capital de giro. Cita que já foi convidado várias vezes para ir para Israel trabalhar na indústria aeronáutica, e diz que se estivesse na China teria facilidades para sair do banco estatal com uma pasta cheia de dinheiro para implementar seus investimentos.

Comentários
1 5 6 7

Deixe um comentário

banner

Fundação Metro

Clique Aqui!