Lampião, cangaceiro fashion

Publicado por Sebastião Verly 9 de agosto de 2017
Lampião, cangaceiro fashion

Lampião, cangaceiro fashion

O Brasil dá mais um passo à frente da Europa que a cada dia mais se curva diante da nação Tupiniquim. Salve o conde Afonso Celso (1860-1938), que, com o fim da monarquia brasileira, ao ir para a Europa acompanhando o pai, Visconde de Ouro Preto, no exílio, escreveu, entre muitos outros, o livro “Porque me ufano de meu país”.

Na abertura da feira de negócios Fashion Business em maio de 2012, Mara Mac ganhou exposição multimídia no novo projeto Memória Moda Rio. Eloysa Simão explicou melhor do que se trata a novidade: “A ideia é resgatar toda a trajetória dos estilistas que fizeram a moda no Brasil e no mundo e que foram pioneiros na moda mundial. O acervo de imagens das pessoas está meio perdido, queremos relembrar tudo com fotografias, depoimentos e imagens de desfiles e criar a história fotográfica e descritiva através da pesquisa e da história oral.”

Quem trouxe a maior contribuição que encaminharei aos organizadores do projeto Memória Moda Rio +20, foi meu amigo e colega de trabalho, que acompanha as teses de mestrado e doutorado em BH, trabalhos universitários que, no Brasil, cada vez mais se aproxima da gente humilde, da população leiga em geral e adota mesmo a terminologia e conhecimento popular como força da atratividade dos textos acadêmicos.

Vlad, como eu gosto de chamá-lo, descobriu uma tese ou dissertação que mostra que o famoso chefe de bando, justiceiro ou cangaceiro, Capitão Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, era um estilista e costureiro de mãos cheias.

O mundo inteiro, há mais de 75 anos, veio ao país copiar a moda dos coletes de couro, até o chapéu, com aqueles símbolos místicos, ganhou foros de elegância naqueles anos.

Parece que seu trabalho de estilista começou a destacar em 1930, quando conheceu Maria Deia (Maria Bonita) que ingressou no bando, tornando-se sua mulher.

Maria Bonita era uma excelente costureira, costurava tecido de algodão e couro com a mesma facilidade. O marido cuidava de elaborar os moldes em papel de embrulho e passava à mulher que cumpria a nobre tarefa. Na ocasião fizeram até um xaxado cuja letra dizia: “os cabras na mesa do jogo e Maria na máquina de pé”. Sim, o marido lhe presenteara no natal anterior com umas das primeiras maquinas de costura Singer de pé recém chegadas ao Brasil.

Lampião entusiasmado com a nova profissão, ele que até os 20 anos era exímio artesão, dizem que chegou até pensar em largar o cangaço. Certo dia, segundo contam, ele e seu bando se depararam com um homem solitário na estrada e foi logo perguntando o que o homem sabia fazer, ele respondeu que era sapateiro, e o capitão quis saber: “remendão ou caprichoso?” A idéia não é de todo exótica, pois sabe-se que os militares em geral atribuem grande valor à alfaiataria.
Estive pessoalmente no Arraial do Angico quando fui à Água Branca para o casamento de meu colega e amigo Luiz Otávio com a filha de um fazendeiro local e os meus novos amigos me levaram até o ambiente, infelizmente mal preservado e mostraram-me inclusive os suportes dos manequins que o bravo capitão levava de um canto para outro e até para cidades vizinhas para mostrar o trabalho de sua equipe. Sim, era uma equipe mesmo que cuidava de executar os modelos, em geral a partir dos uniformes do bando.

Ao contrário do que muita gente simples acredita, Lampião sabia ler e escrever e arranhava um pouco de inglês e francês. Tanto que ele mesmo afirmava que só usava óculos para ler as letras miúdas de livros que encontrava nas suas missões ou que comprava em suas passagens pacíficas pelas cidades.

Num dos jornais da época encontrou a palavra que queria para nomear os desfiles que pretendia espalhar para o mundo inteiro. No ano de 1932, ele mostrou-se um dos precursores de eventos de exposição de seu trabalho como estilista e aproveitava para exaltar as mulheres de seu bando como costureiras e usuárias de seus modelos, ele sempre se referia àquele conjunto de pessoas como grupo ou equipe, embora houvesse dentre eles alguns que faziam distinção entre grupo, equipe e bando, que até hoje atormenta alguns dos meus colegas de trabalho.

Pouco importa a nomenclatura dada ao contingente ou batalhão, pois o que trato aqui hoje foi da campanha que ele fez para valorizar os seus subordinados.

Volto ao ano de 1932 ou 33 os registros não são precisos, quando ele encontrou a nova palavra usada na Europa, especialmente na França, onde a avó de filósofo Gilles Deleuze já cuidava da apresentação de modelos e novos estilos de roupa e os Estados Unidos adotavam, com vigor, o marketing da moda. Foi numa dessas leituras que o bravo Comandante Virgulino encontrou a palavra Fashion. E passou a falar esta palavra em todas as ocasiões em que falava ao público.
Para divulgar a imagem dos bravos guerrilheiros de antanho, num programa criado por um de seus auxiliares que era o “Projeto de Valorização do Cangaceiro” ele lembrou da palavra mágica que lhe daria visibilidade perante o mundo naquele seu trabalho de mobilização social pela distribuição da riqueza nacional.

Foi ali, em Água Branca, aquela bela cidade do interior de Alagoas que ele lançou seu primeiro “Cangaceiros Fashion”.

O evento que lhe valeu créditos até o ano de sua morte contava sempre muitas apresentações na cidade onde vivia e trabalhava, bem como, nas cidades vizinhas.

E sempre ele mesmo dizia que cada apresentação havia sido um sucesso. Cangaceiros Fashion estaria na ativa até hoje se nosso herói não tivesse morrido em 1938.

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