Ver

Publicado por Editor 8 de junho de 2023


O verdadeiro é quando o corpo entende que pode ver. Só então ele é capaz de saber que o mundo para o qual olhamos todo dia é apenas uma descrição. A fim de ver a gente tem de aprender como é que os feiticeiros olham para o mundo. Para ser feiticeiro, o homem tem de ser apaixonado. Um homem apaixonado tem bens terrenos e coisas queridas… se nada mais, o simples caminho em que anda.

Existem perigos inomináveis no caminho do conhecimento para aqueles que não possuem uma compreensão sóbria. Estou delineando a ordem na qual os novos videntes colocaram a verdade sobre a consciência, de modo que lhe sirva como um mapa, um mapa que você deverá comprovar com sua visão, mas não com seus olhos.

Vejo de dois jeitos. Quando quero olhar para o mundo, vejo-o da maneira que você vê. Depois, quando desejo vê-lo, olho para ele do jeito que eu sei e percebo-o de maneira diferente. As coisas não mudam. A gente é que muda a maneira de olhar, só isso. Sempre que você olha para as coisas, não a vê. Apenas olha para elas, suponho que para se certificar de que há alguma coisa ali. Como não está preocupado em ver, as coisas parecem as mesmas cada vez que olha para elas. Mas quando aprende a ver, por outro lado, uma coisa nunca é a mesma cada vez que você a vê, e no entanto é a mesma.

Quando o homem aprende a ver, ele se encontra sozinho no mundo, apenas com a loucura. Seus atos, bem como os atos de seus semelhantes em geral, parecem-lhe importantes porque aprendeu a pensar que são importantes. Certas coisas em sua vida lhe importam porque são importantes; seus atos certamente são importantes para você, mas, para mim, não há mais nenhuma coisa importante, nem os meus atos nem os de meus semelhantes. Mas continuo a viver porque tenho minha vontade.

Porque temperei minha vontade em toda a minha vida, até ela se tornar limpa e sadia, e agora não mais me importa o fato de nada importar. Minha vontade controla a loucura de minha vida. Aprendemos a pensar sobre tudo e depois exercitamos nossos olhos para olharem como pensamos a respeito das coisas que olhamos. Olhamos para nós mesmos já pensando que somos importantes. E, por isso, temos de sentir-nos importantes! Mas quando o homem aprender a ver, entende que não pode mais pensar a respeito das coisas que ele olha, e se não pode mais pensar a respeito das coisas que ele olha, tudo fica sem importância.

Eu não disse sem valor. Falei sem importância. Tudo é igual, e dessa forma sem importância. Por exemplo, não há meio de eu dizer que meus atos sejam mais importantes do que os seus, ou que uma coisa seja mais importante do que outra; e, portanto, todas as coisas são iguais, e sendo iguais são sem importância. Outro exemplo: precisamos olhar com nossos olhos para rir, porque só quando olhamos para as coisas é que pegamos o lado engraçado do mundo. Por outro lado, quando os nossos olhos vêem, tudo é tão igual que nada é engraçado.

Nossos olhos olham, de modo que podemos rir, ou chorar ou regozijar-nos, ou ficar tristes, ou felizes. Pessoalmente não gosto de ficar triste, de modo que sempre que presencio alguma coisa que normalmente me entristeceria, limito-me a mudar meus olhos e vejo a coisa, em vez de simplesmente olhar para ela. Mas quando encontro alguma coisa engraçada, eu olho e rio.

O mundo, quando você o vê, não é o que pensa que é agora. É antes um mundo veloz, que se move e modifica. Somos homens e nosso destino é aprender e sermos lançados em novos mundos inconcebíveis. Ver é para homens impecáveis. Se um homem vê, não tem de viver como um guerreiro, nem como coisa alguma, pois pode ver as coisas como elas são realmente e dirigir sua vida de acordo. Ao aprender a ver, o homem torna-se tudo, tornando-se nada.

Por assim dizer, desaparece, e no entanto continua ali. Eu diria que essa é a ocasião em que o homem pode ser ou conseguir tudo o que deseja. Mas não deseja nada, e em vez de brincar com seus semelhantes como se fossem brinquedos, ele os encontra no meio da loucura deles. A única diferença entre eles é que o homem que vê controla sua loucura, enquanto que seus semelhantes não o conseguem. Um homem que vê não tem mais um interesse ativo por seus semelhantes. Ver já o desprendeu de tudo o que conhecia antes.

Todas as pessoas são presas do engano de que ver é função dos olhos. Ver não é questão de olhar e ficar quieto. Ver é uma técnica que a gente tem de aprender. Ou talvez seja uma técnica que alguns de nós já conhecemos.

(Compilação Flórion)

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