O fim do Império?

Publicado por Antonio Carlos Santini 25 de março de 2013

Nós devemos muito aos Estados Unidos da América. Por exemplo, devemos a notável música de George Gershwin e os hinos negro-spirituals dos ex-escravos africanos cristianizados no Mississipi. Pena que, de contrapeso, nos enfiassem goela abaixo o McDonald’s, a coca-cola e os Simpsons…

Entretanto, se reconhecemos a dívida, pedimos vênia para interrogar a História e verificar se o Império ianque, esmagado por uma dívida externa de 16 trilhões de dólares e insuportável índice de desemprego, não estaria vivendo seus últimos estertores…

Todo crescimento tem limites. O Cosmo é finito. E não seria possível crescer tanto, como se inflaram os EUA, sem sofrer as consequências desse gigantismo teratomorfo. Deve ser por isso que a Suíça permanece pequenina e sóbria, encastelada em suas neves alpinas…

A rápida explosão territorial dos EUA é registrada por Olavo de Carvalho em seu saboroso livro “O Jardim das Aflições” [1995]. Em apenas 103 anos, os sobrinhos de Tio Sam mais que duplicaram seu território. Eis a escalada imperialista:

– 1803. Compra da Louisiana.

– 1812. Tentativa (fracassada) de invasão do Canadá.

– 1823. Doutrina Monroe.

– 1845. Anexação do Texas.

– 1846. Intervenção branca na Califórnia. Guerra contra o México.

– 1854. Instalação de ponta-de-lança no Japão.

– 1867. Compra do Alasca.

– 1898. Anexação das Filipinas. Intervenção em Cuba. Guerra com a Espanha.

– 1908. Construção do Canal do Panamá.

Olavo de Carvalho pergunta: “Como foi possível que, diante de fatos dessa envergadura, as potências europeias não se dessem conta, de imediato, de que havia nascido aquele [Império] que Deus predestinara para ser o seu coveiro?”

Ainda que a justificativa moral para esse expansionismo fosse a pretensa salvaguarda da liberdade, o Estado ianque julgou-se no direito de ser o martelo do planeta, intervindo em todos os quadrantes para impor sua visão do mundo e sua geopolítica. Para os EUA, o crescimento dependia da tática de dividir o mundo em dois blocos: os “aliados” e o resto. E para quem discordava, a política do “big stick”. Entre os “aliados” da pátria da liberdade, vários tiranetes de regiões de interesse econômico…

A Guerra do Vietnã [1959-1975] foi um divisor de águas. Com ela caiu a máscara de “pai dos pobres”. As imagens da TV mostravam ao povo americano as bombas de napalm desfolhando ao mesmo tempo a vegetação tropical e as crianças indefesas. Mais que a derrota vergonhosa e o luto das famílias norte-americanas, esse conflito jogou na lama do Mekong o discurso de que de que o patriotismo fabricava heróis. A negra maré de culpa levou o povo americano a bater no peito e sair às ruas contra a guerra.

De lá para cá, amplificadas pela luta interna na defesa dos direitos civis, as vozes de recusa ressoaram por todos os cantos da América. A atual crise econômica dos EUA é muito menos grave que sua crise moral, manifestada de modo inequívoco no milhão e meio de abortos legais por ano, nos 20 milhões de dependentes químicos e na crescente população carcerária (2 milhões de detentos em 2002). Além do clima permanente de bangue-bangue, pois 90% dos cidadãos dos EUA possuem uma arma de fogo. Deu nisto o “american way of life”.

Quanto ao Brasil (ou BraZil?), vale perguntar se continuaremos a macaquear um modelo que leva à morte? E se ainda há tempo para salvar a alma nacional das metástases que chegam do Norte…

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