Esse sujeito chamado leigo – parte I

Publicado por Antonio Carlos Santini 6 de março de 2018

este sujeito chamado leigo

(Foto: WordPress.com)

Ao receber o convite para escrever uma série de artigos sobre os fiéis leigos, senti-me muito honrado. Sentimento logo ultrapassado por outro: o risco que eu iria correr de gastar este espaço para falar de coisinhas agradáveis – ou mesmo irrelevantes – e deixar de lado a realidade de uma multidão de fiéis batizados que olham para a Igreja como quem vê apenas um supermercado com mercadorias a distribuir…

Não é à toa que o título do Cap. I do Doc. 105 da CNBB – “Cristãos leigos e leigas na Igreja e na sociedade” – coloca lado a lado duas palavras: esperanças e angústias. E, não fosse essa esperança, a angústia acabava por me sufocar…
Logo na sua Introdução, o Documento traz uma afirmação essencial: “Cada cristão leigo e leiga é chamado a ser SUJEITO ECLESIAL para atuar na Igreja e no mundo”.

E dá o exemplo de Francisco de Assis – este santo mais atual do que nunca – que dedicou sua vida à reconstrução da Igreja.
Desde já, cabe uma análise gramatical em torno da palavra SUJEITO. É que não basta ser “sujeito”. É preciso avaliar que tipo de sujeito nós queremos, seremos… Sujeito oculto? Ninguém o verá. Sujeito indeterminado? Já existem milhares em cima do muro.

Se permitem uma divagação a um ex-professor de Gramática, vamos examinar esta frase:

– João foi atropelado pelo caminhão.

O sujeito é João. Mas é um sujeito passivo. Aparece na oração apenas para ser esmagado pela máquina. Muito diferente de Francisco de Assis, que foi – ele sim – uma W-12, essa enorme máquina de terraplenagem que passou pela estrada de seu tempo arrasando velhas estruturas de uma sociedade carcomida pela avareza, pela ambição, pelo sonho da acumulação e todos os demais pecados do então capitalismo nascente…

O tal SUJEITO citado no Doc. 105 deve ser um sujeito ATIVO, ainda que ele precise correr riscos, como na frase:

– João atropelou o caminhão.

E, neste caso, o caminhão que nós temos de atropelar é a sociedade que nos cerca, é o mundo que nos envolve, são os contravalores de um mundo neopagão que chegam a invadir as próprias estruturas da Igreja.

Por isso mesmo, o Doc. 105 cita o Papa Paulo VI:

“A primeira e imediata tarefa [do leigo] NÃO é a instituição e o desenvolvimento da comunidade eclesial – esse é o papel específico dos pastores – mas sim […] o vasto e complicado mundo da política, da realidade social e da economia, como também o da cultura, das ciências e das artes, da vida internacional, dos mass media e, ainda, outras realidades abertas à evangelização, como sejam o amor, a família, a educação das crianças e dos adolescentes, o trabalho profissional e o sofrimento.” (Nº 6)

Depois deste amplo horizonte aberto aos nossos olhos pelo Papa Montini, seria o caso de nos perguntarmos se as chamadas “equipes de pastoral” estão mergulhadas nesse caldo de cultura, ou estão refugiadas na morna segurança das sacristias…

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