Colômbia: ONU indica que Exército age por recompensas

Publicado por Afonso Machado 26 de junho de 2009

philip-alston

No último dia 18/06/2009 numa coletiva de imprensa em Bogotá, Colômbia, o responsável da Organização das Nações Unidas, ONU, pela investigação sobre execuções extrajudiciais naquele país, Phillip Alston(foto) divulgou relatório criticando o Exército colombiano por não coibir uma prática comum entre seus soldados de assassinar civis inocentes e contabilizar as mortes como baixas da guerrilha. Na realidade o representante da ONU usa uma linguagem diplomática para evitar uma saia-justa pois a história do presidente Álvaro Uribe está intimamente ligada aos paramilitares que sempre operaram em seu país. O pai de Uribe foi executado pela guerrilha de esquerda, e a vingança passou a ser o objetivo de sua vida. Os paramilitares, que agiam na clandestinidade, sempre lhe pareceram o caminho mais eficiente. No poder desde 2002 Uribe não precisa mais dos “paras”, mas passou a adotar seus métodos dentro do próprio exército nacional.

O episódio de 19 homens e meninos mortos por soldados no ano passado em Soacha, subúrbio de Bogotá, é somente “a ponta do iceberg”. Os colombianos ficaram chocados com os assassinatos cometidos por soldados em busca de promoções, bônus e outros benefícios oferecidos para um Exército sob crescente pressão após 45 anos de insurgência esquerdista.

O funcionário da ONU, no final de uma missão de 10 dias, afirmou que tais casos representam uma prática “mais ou menos sistemática” de “elementos significativos entre os militares”. Alston afirmou que a prática nunca fez parte da política oficial de Estado, e que o ministério da Defesa agiu para parar com essas mortes. Mas os esforços para levar os culpados à Justiça têm sido lentos e realizados de forma inadequada, ressalvou. Na prática denuncia que se trata de uma política “oficiosa”.

Civis têm sido mortos por soldados em todo o país no que Alston chamou de “assassinatos premeditados e a sangue frio de civis inocentes, por lucro”. O maior número desse tipo de morte ocorreu na periferia pobre de Soacha, onde recrutas iludem as vítimas com promessas de trabalhos lucrativos. Em vez disso, as pessoas eram mortas, vestidas como combatentes rebeldes e fotografadas com armas, diz o relatório da ONU.
“As provas mostram as vítimas com roupas camufladas apertadas, ou com botas para selva quatro números maior que o tamanho delas, ou canhotos com armas na mão direita, ou homens com somente um orifício de tiro na nuca, e isso sustenta a ideia de que são guerrilheiros mortos em combate.”

Para manter a diplomacia, o relatório de Alston foi amenizado. Afirma que o governo convidou a missão da ONU e cooperou com o inquérito, tomou “medidas importantes para parar e reagir a essas mortes”. “Mas o número de processos bem-sucedidos continua muito baixo”, acrescentou.

Álvaro Uribe foi eleito pela primeira vez em 2002 com a ajuda de bilhões de dólares dos Estados Unidos para intensificar a luta contra as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). O uso de mercenários estrangeiros, inclusive empresas americanas, européias e israelenses de “segurança” ou “ações especiais” e incentivos milionários aos elementos do Exército Colombiano, bem como aos desertores da guerrilha pode ter surtido um certo efeito psicológico a princípio, mas hoje virou um Vale-tudo, com o total descontrole sobre as ações armadas pelo governo, como deixa ver o relatório da ONU.

A cumplicidade do governo George W.Bush com Uribe foi muito além de ajudas unilaterais bilionárias. Teve inclusive um tratado privilegiado de “livre comércio” que foi denunciado pelo presidente Obama enquanto candidato. Além de gerar desemprego nos EUA, o tratado, segundo Obama, deveria ser suspenso pois o governo Uribe vinha sendo freqüentemente denunciado pela atuação de Esquadrões da Morte que eliminavam inimigos da política institucional e lideranças sindicais no país. Mas a maior ajuda que o governo de George W. Bush deu à direita colombiana foi a nomeação de Luis Alberto Moreno, ex-embaixador da Colômbia nos EUA, para a presidência do Banco Interamericano de Desenvolvimento, BID.

Moreno, que assumiu a presidência daquela importante instituição continental de fomento desde outubro de 2005, quando derrotou o brasileiro João Sayad, então Vice-presidente de Finanças e Administração do banco, e três ex-ministros ou presidentes dos Bancos Centrais do Peru, Venezuela e Nicarágua, contou com o poder de voto proporcional às quotas controladas pelos EUA(30%) e seus aliados Canadá (4%) e membros da União Européia e da OTAN (16%), contando para isso também com a divisão dos países latino americanos.

Luis Alberto Moreno em sua gestão privilegiou tanto seu país que se tornou um candidato imbatível à sucessão de Uribe. Mas os últimos fatos têm mostrado que a política de Vale-tudo no combate às FARC está fazendo água, e o descontrole do aparelho de estado é cada vez mais evidente. O fato de a política institucional ter sido desacreditada pela ação dos esquadrões da morte pode significar que as FARC estão tendo a oportunidade de se tornar viáveis politicamente, ao contrário do que vinha sendo propagado pela grande imprensa mundial, que sempre apresentava a guerrilha de esquerda como conivente e sócia do narcotráfico. Como a imprensa livre tem que instalar o contraditório, não temos acesso à argumentação em defesa das FARC, mas seguramente entendemos que o atual governo-estado colombiano não demonstra legitimidade para representar a estabilidade democrática nesse país.

Comentários
  • Walter – Nova Lima – MG 5386 dias atrás

    Enquanto os homens exercem seus podres poderes
    Motos e fuscas avançam os sinais vermelhos
    E perdem os verdes
    Somos uns boçais
    ………………………..
    Será que nunca faremos se não confirmar
    A incompetência da América Católica
    Que sempre precisará de ridículos tiranos?

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