Xamanismo

XXVIII – A roda gigante

Publicado por Bill Braga
Data da publicação: 03/03/2023

E de fato a caminhada continuou. Frequentava um psiquiatra e psicanalista, tomava uns remédios após certo tempo parado, mas não achava que aquilo ali era realmente o que me curava. Fui retomando a vida passo-a-passo. Voltei a frequentar as aulas do mestrado, e vi que dava conta de lidar com os estudos e com a socialização na Fafich, a Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG. Retomei as conversas com alguns amig...

XXVII – A caminhada continua

Publicado por Bill Braga
Data da publicação: 16/01/2023

Sentia ainda aquela afasia, aquele distanciamento do mundo real, onde tudo parecia sem sentido e sem profundidade. Sentia a falta do amor, que eu projetava apenas em duas mulheres, sem saber que ele está espalhado pelo mundo, nos seres imagináveis e inimagináveis. Mas um dia tomei a decisão. Sim, dar fim àquela existência inútil de um ser que sobrevivia vendo televisão de costas, não lia, não falava, não interagia. ...

XXVI – A loucura é a sanidade travestida de felicidade e prazer

Publicado por Bill Braga
Data da publicação: 02/12/2022

A rejeição dos meus supostos amores, Fernanda e Mel, me jogou numa ilha de isolamento. Aos poucos, nem as saídas mais me satisfaziam. Via com monotonia aquelas conversas fúteis e banais que meus amigos e os homens e mulheres comuns levavam. Afinal de contas, de que valia a vida sem o amor? Nada. Um vazio imenso se adentrava, naquela época, no meu ser. Era o vazio do amar, a necessidade constante do amor como via de mão d...

XXV – Metamorfose

Publicado por Bill Braga
Data da publicação: 02/11/2022

As saidas eram uma forma de socialização. Mas ao mesmo tempo refletiam-se em mim os meus maiores medos e angústias. O medo da solidão. Os reflexos dos medicamentos. Os efeitos colaterais eram terriveis. Ir ao banheiro era um desafio. Eu, meu órgão genital enfrentando aquele mictório, era como se meus fantasmas se colocassem ali. E não saía nada. E eu ia ficando mais tenso, e não saía o liquido com os excrementos do ...

XXIV – Eu, caçador de mim

Publicado por Bill Braga
Data da publicação: 08/10/2022

E cá estou eu, novamente expurgando minhas dores, pós-Pinel. Sim, aconteceu de novo. Mas calma, antes de lhe contar tudo que aconteceu nesta nova crise, ou surto como gostam de dizer os homens de branco, devo lhes contar o meio. O Entre, o tudo que aconteceu entre estas duas internações. Entre o abrir daquela porta, em que meus olhos lacrimejavam ao ver a liberdade, e hoje, em que encontro-me novamente “preso” em casa,...

XXIII – Antes e Depois da Pinel

Publicado por Bill Braga
Data da publicação: 16/08/2022

Como são fingidores os loucos e poetas! Certo estava Pessoa. Fingindo contar as dores, fingem expurgá-las, fingem adequar-se, fingem mediocrizar-se. E todos, e mesmo eles, chegam a crer no fingimento, mero artifício de retórica, mera criação. Mas ao fingir, não é que as dores se esvaem, na catarse do contar, ainda que fingido, do recontar, post-escrito, a alma inquieta, a bipolaridade do ser, as inconstâncias própria...

XXII – Resistir ao Domínio Psiquiatrizante

Publicado por Bill Braga
Data da publicação: 15/07/2022

Não há mais o que dizer da monótona monotonia dos dias de cárcere nesta clínica. Nem mais o violão, nem mesmo ter conhecido Fernanda, nada aplaca a dor de estar… Porque não é a dor de ser ou de existir, mas a dor de não poder ser plenamente, de existir como uma ave, com asas cortadas e correntes prendendo as patas. Sem falar nas grades da gaiola que evitam qualquer mínima tentativa de voar. A Pinel é minha gai...

XXI – Necessidade de se apaixonar

Publicado por Bill Braga
Data da publicação: 09/06/2022

Abro meus olhos e, mais uma vez a cena se repete: Valéria deitada na cama ao meu lado, eu no chão, o mesmo quarto, a mesma TV, as mesmas portas. Como eram iguais aqueles dias, que teimavam em não passar, dentro da clínica-prisão. Já não agüentava mais a monotonia, a mesmice. Ainda mais que eu tinha saído, tinha respirado os ares da liberdade por pouco tempo, até me trancafiarem novamente. Tinha flanado pelas ruas...