Memórias
Publicado por Sebastião Verly
Data da publicação: 21/01/2023
Nos meus tempos de criança e adolescente, por volta de 1948 a 1960, na cidade onde nasci, a maior diversão, especialmente para a pobreza, eram as festas religiosas. Festa para pobre era a festa religiosa, ali não havia distinção de classe social. Passada a época das Folias de Reis, que tinham seu auge no dia 6 de janeiro, começávamos a esperar pela festa do glorioso São Sebastião. Eu ficava encantado com tudo. A come...
Publicado por Bill Braga
Data da publicação: 16/01/2023
Sentia ainda aquela afasia, aquele distanciamento do mundo real, onde tudo parecia sem sentido e sem profundidade. Sentia a falta do amor, que eu projetava apenas em duas mulheres, sem saber que ele está espalhado pelo mundo, nos seres imagináveis e inimagináveis. Mas um dia tomei a decisão. Sim, dar fim àquela existência inútil de um ser que sobrevivia vendo televisão de costas, não lia, não falava, não interagia. ...
Publicado por Bill Braga
Data da publicação: 02/12/2022
A rejeição dos meus supostos amores, Fernanda e Mel, me jogou numa ilha de isolamento. Aos poucos, nem as saídas mais me satisfaziam. Via com monotonia aquelas conversas fúteis e banais que meus amigos e os homens e mulheres comuns levavam. Afinal de contas, de que valia a vida sem o amor? Nada. Um vazio imenso se adentrava, naquela época, no meu ser. Era o vazio do amar, a necessidade constante do amor como via de mão d...
Publicado por Sebastião Verly
Data da publicação: 15/11/2022
São as lendas e galhofas de Pompéu. Cresci acreditando nas muitas lendas, entre elas as dos valentões, que povoavam a fantasia da minha cidadezinha. Alguns deles eu os conheci ainda que rapidamente como foi o Luiz Boca de Fogo. Os criminosos eu nem conto, porque eu os via ali pedindo cigarros nas inocentes grades de madeira das janelas da cadeia pública que davam para a rua, naquela época ainda se amarrava cachorro com li...
Publicado por Bill Braga
Data da publicação: 02/11/2022
As saidas eram uma forma de socialização. Mas ao mesmo tempo refletiam-se em mim os meus maiores medos e angústias. O medo da solidão. Os reflexos dos medicamentos. Os efeitos colaterais eram terriveis. Ir ao banheiro era um desafio. Eu, meu órgão genital enfrentando aquele mictório, era como se meus fantasmas se colocassem ali. E não saía nada. E eu ia ficando mais tenso, e não saía o liquido com os excrementos do ...
Publicado por Sebastião Verly
Data da publicação: 17/10/2022
Com passos curtos, chegou, pediu a pinga e sentou-se a espera de audiência. Daí a minutos chega um cidadão pede uma cerveja estupidamente gelada e é convidado a compartilhar, dividir a mesa e ouvir seus causos. Começou a explicar algumas palavras pertinentes ao que ia contar e que caíram em desuso. Lembrou dos seus tempos de mais jovem e da prostituição. Engrenou conversa: – As prostitutas da capital vinham do in...
Publicado por Sebastião Verly
Data da publicação: 10/10/2022
Fernando, o cidadão da cerveja de ontem, já esperava para ouvir sobre a velha Lagoinha, conforme sugeriu da vez anterior. Pediu a bôua, sentou-se e se pôs a falar. Não dá para falar, viu. Ninguém vai acreditar. A Lagoinha era o que há hoje e muitas vezes mais pela Praça Vaz de Melo e adjacências. A Vaz de Melo era única. O grande compositor Rômulo Paes fez aquela música: “Não há entre nós um paralelo, eu aqui...
Publicado por Bill Braga
Data da publicação: 08/10/2022
E cá estou eu, novamente expurgando minhas dores, pós-Pinel. Sim, aconteceu de novo. Mas calma, antes de lhe contar tudo que aconteceu nesta nova crise, ou surto como gostam de dizer os homens de branco, devo lhes contar o meio. O Entre, o tudo que aconteceu entre estas duas internações. Entre o abrir daquela porta, em que meus olhos lacrimejavam ao ver a liberdade, e hoje, em que encontro-me novamente “preso” em casa,...