Para onde correm nossos rios?

Publicado por Antonio Ângelo 30 de julho de 2019

Para onde correm nossos rios

Alberto Caieiro é quem diz:
O rio da minha aldeia não faz pensar em nada
Quem está ao pé dele está só ao pé dele
Para o Poeta, o Tejo não é mais belo que o rio
Que corre em sua aldeia.

O Tâmisa escorre grandioso por Londres
Vi pessoas pescando à beira do Sena
Mississipi, Nilo, quantos maravilhosos rios
Mas o que me interessa, são os rios de minha aldeia.

Pobres e vilipendiados rios de minha terra
A que ponto os levarão estes grupos
Que não se interrompem antes suas correntes
E os tratam com desprezo e insensatez?

Senhores de visão turva
Embasbacados ante o que usufruirão das riquezas
Não me interessa o Sena, o Tâmisa
Quero inteiro, translúcido, o Rio Doce
Devolvam-nos o Rio Doce

Agora o Paraopeba da fatídica Brumadinho
De uma tragédia inominável
O que mais desejam os senhores
Com vossos ternos mortuários
Garras de bandidos sanguinários?

O Rio São Francisco, que foge rumo ao nordeste
O Velho Chico já tão despojado
De profundidades, remansos e praias
A ele se dirigem num processo inestancável
A lava fria de rejeitos, restos mortais, sujeira e incúria.

Do Jequitinhonha, o que farão?
Do Lambari e Picão, mais próximos ainda de minha aldeia?
Certamente em sua sanha, ao final sequer sobrará
O Rio das Mortes, multiplicado que estará
Num sem número de tristes e mortos outros rios.

Comentários
  • aminthas 1700 dias atrás

    e

    Estimado amigo. Que texto lindo sobre os nossos rios .E Fernando Pessoa está presente com seu heterônimo Alberto Caieiro. O vil metal sempre permeia a degradação de nossos rios que para eles não significa nada. nada.

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