Que faria Henry Ford diante dos rolezinhos?

Publicado por Sebastião Verly 22 de janeiro de 2014

Henry Ford (1863-1947), criador da linha de montagem na indústria automobilística, idealizou o mercado de massa para os automóveis. Seu objetivo era baixar o preço do automóvel, para que aqueles que trabalhassem em sua produção pudessem comprá-lo. A indústria geraria ao mesmo tempo emprego e consumo para seus bens. O capitalismo tem como pedra de toque a acumulação do capital alimentada pelo lucro, e para aumentar o lucro, é preciso aumentar o consumo, para que a massa de salários aumente e os próprios assalariados se tornem consumidores da produção crescente.

A pior ameaça ao capitalismo sempre foram as crises de superprodução ou subconsumo. Parece um paradoxo, mas os capitalistas precisam dos trabalhadores para fazer seu dinheiro circular. Michal Kalecki (1899-1970), economista polonês radicado nos EUA cunhou a frase: “Os trabalhadores gastam tudo que ganham, os capitalistas ganham tudo que gastam”.

O capitalismo moderno, cuja produção cresce exponencialmente, criou o marketing e o merchandising, que gera o desejo de comprar, mais além das necessidades reais, e faz com que todo mundo, sem distinção de religião, classe social, cor da pele, tipo de cabelo ou níveis de instrução e conhecimento, queira comprar o que o sistema põe à venda, anuncia e transforma em desejo, como dizia Karl Marx, pelo fetiche da mercadoria.

A propaganda intensa atinge a todos sem piedade, como um tsunami, um tremendo rolezão. O capitalismo, apela para o endividamento das famílias e dos indivíduos, induz os mais incautos a buscarem avidamente suas quinquilharias. O largo prazo dos financiamentos é um malabarismo que torna irresistíveis as prestações. Os valores finais agigantam-se quando contabilizados, mas isso não entra no jogo, o que importa é a realização dos desejos imediatos que levam à felicidade. Para tirar as pessoas do baixo astral, da depressão, síndrome de pânico, tão comuns no mundo moderno, nada como a magia de um banho de loja.

Os shoppings centers, catedrais de consumo do capitalismo global, trouxe beleza, conforto, estacionamento seguro a preços suportáveis, estimula as compras em meio aos prazeres variados: cinemas, praças de alimentação com todos os sabores imagináveis, academias de ginástica que despejam os corpos esculturais nos corredores e lojas sultanescamente decorados, iluminação excitante e estimulante, varrendo as sombras, e toda sorte de atrativos para os seis sentidos dos humanos mortais, até um sutil perfume no ar condicionado, banheiros cheirosos, berçários e principalmente segurança humana e eletrônica.

A mídia fatura no rolezão do comércio globalizado, civilizado e glamouroso dos shoppings, e retribui estimulando a frequência dos “bons consumidores” pela segurança, e pela seletiva companhia de pessoas bonitas e bem vestidas. Muitas mulheres vão ao salão de beleza antes de irem ao Shopping, onde se encontram Maurícios e Patrícias.

O shopping virou ponto de lazer em muitas regiões, especialmente nas capitais e em cidades maiores, onde a especulação imobiliária aliada à política viciada acaba cada dia mais com as áreas comuns, lembram-se dos campos de futebol de várzea?

É nas modernas basílicas do consumo global que os adolescentes de classe média marcam pelo telefone encontros de uma dezena ou dúzia de amigos, onde esse “rolé” transcorre sem maiores alardes e para um puro deleite da garotada, comer um “sanduiche de marca” e mesmo para ir ao cinema atraídos pelos belos cartazes. Todos iguais, porém uns mais iguais que outros… Uma mãe de classe média me dizia que o único lugar seguro para deixar a filha adolescente com os amigos é o shopping.

Alguém disse: “O shopping se esforça na desqualificação da rua. Nesse processo o Brasil é exemplar e somos bombardeados todos os dias com notícias que têm o objetivo de nos lembrar o quanto a rua é perigosa. Isto pra mim é um compromisso com as “capsulas de segurança” e nesse sentido entramos em automóveis, shoppings, condomínios fechados e outros. Este também é um dos entraves do transporte verdadeiramente público.”

Enfim, o rolezinho é visto como uma “rualização” do shopping, quebra de uma capsula de segurança, portanto, com direito a todos os paranóicos perigos que a RUA passou a representar, após anos de desqualificação como lugar de pessoas. Cidade não é mais o lugar comum de cidadãos civilizados, é a selva de pedra, onde a selvageria dos excluídos do consumo se vinga subconscientemente da selvageria do apartheid social a que são submetidos.

Aí entra a questão da segurança. Essa indústria do medo da mídia também tem um compromisso com a indústria da segurança… Dizem até que este tema é o único suficientemente forte, hoje, para voltarmos a um planejamento, desde o metropolitano até o federal, integrando entes públicos de todas as esferas de governo, já que por motivos culturais não pensamos o espaço, o território, e as responsabilidades em comum, mas de forma loteada e estanquizada, o pedaço de lá é seu e o de cá é meu, essa parte é sua, e esta é minha!

Projetados para faturar e intensificar a realização dos lucros, agora estes mesmos shopping centers tornam-se centros de uma polêmica inesperada e mesmo inusitada, os chamados rolezinhos. Jovens da periferia também são atingidos pelo rolezão, tsunami  do marketing inescrupuloso que não respeita limites, territórios, camadas sociais e econômicas.

Todo adolescente sonha com os mais belos pares de tênis, mochilas, roupas de grife, jeans rasgados como dita a moda, celulares, tablets, i-phones, i-pads, sons, câmeras, perfumes e alimentos que se vendem muito acima do valor real, pela marca ostentada e pelo cerco dos monopólios. Não importa o futuro, a prestação, merrecas, cabe nos bolsos e nas bolsas de todos, especialmente da nova classe média, recém-chegada aos rolés do consumo.

Nas praças de alimentação a Coca Cola impera absoluta, está em 100% das lanchonetes e restaurantes. Cadê o CADE, presidenta Dilma? Nos principais shoppings de BH há apenas três lojas que vendem tênis e materiais esportivos, todas do mesmo dono. A coisa deu tão certo para ele, que mudou a empresa de BH para São Paulo e quer estender sua concorrência de mentira para todo o Brasil e já anunciou que seu plano é atingir toda a América Latina. Ponha gente séria no CADE, presidenta!

Atraídos pela imagem sensual de Giselle Bundchen e outras tantas sereias, a juventude da periferia também quer ver de perto e também fazer uma ou outra compra pelos cartões de crediário das lojas. Outro dia vi um homem simples de um bairro da periferia, acompanhado de esposa e filhos, visitando um shopping da zona sul de Belo Horizonte, com suas melhores roupas, somente para mostrar a beleza majestosa do shopping para uma família de parentes do interior. Esmagados pelo espetáculo que contemplavam, se sentiam em outro planeta.

A fantasia do consumo tomou conta de todos. O capitalismo triunfou globalmente, todos querem aquilo que é divulgado, até as crianças recusam os alimentos saudáveis para preferir os que têm propaganda na TV. Toda a população sonha com os calçados e roupas da moda, com os produtos e objetos oferecidos, por mais irracional que isso pareça. Um dos colunistas defensores das classes acuadas, ao bravatear contra os rolezinhos confessou: “as pessoas têm o direito de consumir em paz!” Seu subconsciente admitiu que as pessoas não estão ali para realizar necessidades materiais, mas emocionais, não precisam comprar, precisam consumir.

Apesar de ser comum a garotada reunir-se na periferia, o fato de reunir centenas e até milhares de jovens para um rolezinho nos shoppings veio à tona no começo de dezembro de 2013 e descabelou a maioria dos governantes, que têm um olho nos apoiadores financeiros e outro nas urnas. Um pé no acelerador e outro no freio, não há penteado que resista!

Tudo começou assim, aparentemente por acaso. De início, assustados seguranças tentaram escaramuçar os jovens que ainda reuniam-se de forma animada no estacionamento do shopping. O pavor criado pelos próprios seguranças levou os adolescentes a penetrarem os espaços internos e o assunto foi parar na direção e daí para as associações comerciais e segue para o prefeito e para o governador. Na sequência uma ministra opinou e até a presidenta da república já teve a agenda solicitada.

A assustada mídia, um olho nos anunciantes outro na audiência, aproveitou o termo rolé que já era há muito usado para “dar uma voltinha” “dar um passeio” e o transmitiu como rolezinhos para todo o país e até para o exterior.

Os rolezinhos se intensificaram, estimulados ainda mais pela projeção que conquistaram. Os “famosinhos” sentiram-se orgulhosos. E mais gente quer se tornar um “famosinho” ou “famosinha”, como se auto-rotulam os convocadores dessas mobilizações, fenômeno similar ao que aconteceu com os lideres do Movimento Passe Livre que desencadeou as manifestações em junho, tornaram-se celebridades, de olho em uma vereança, ou até em um possível mandato deputatício, como dizia Odorico Paraguaçu, personagem da novela global O Bem Amado. Os movimentos estudantis recentes no Chile que o digam, três dos líderes se tornaram deputados muito bem votados. Nos rolezinhos já tem líderes em BH por exemplo com mais de 100 mil seguidores nas redes sociais.

A palavra rolezinho já faz parte dos dicionários na Internet e, em breve, estará nos volumes impressos: “Modalidade de manifestação pública instantânea – inventada por adolescentes de bairros da periferia, leia-se pobres, das grandes capitais brasileiras e normalmente convocada por meio das redes sociais, que reúne dezenas ou centenas de participantes em shopping centers para confraternizar, chamar a atenção, zuar e se divertir;”. O rolezinho antecipou e convive com o verão, substituindo para a mídia e para as autoridades os protestos de junho com os black blocs, que escaldaram a temporada de inverno.

Leio isso: “Eis aí a contradição: a folia juvenil que anima os finais de semana da juventude das periferias é um filme de terror na imaginação daqueles que são encarregados de assegurar a ordem…

Por outro lado ingênuos esquerdistas sonham que esta seja mais uma pressão das classes dominadas que buscam por todos os meios a inclusão social. Tomara!

O que percebemos é que a imaginária provocação leva os truculentos seguranças a baixarem o cassetete, mas só em pessoas pobres que usam bonés, tatuagens ou piercings, e mais, quando a pele é afro.

Leio também:De um lado, a garotada que mal completou 18 anos, de outro, os brucutus da PM ou aqueles sujeitos de terno preto, treinados como cães de guarda dos lojistas dirigindo insultos e agressões, a seus descapitalizados vizinhos da periferia e até parentes.”

Os faraônicos templos de consumo vivem dias de uma fantasmagórica apreensão. Pânico, como aconteceu com o Shopping Leblon no Rio de Janeiro ao fechar as portas por todo o domingo, 19 de janeiro, para evitar o encontro programado de mais 8.000 jovens conforme anunciado em redes sociais.

E leio também: “Diante de um simples rolezinho, a monumental empáfia das caixas-fortes do fetichismo se desfaz como fumaça. As torres inexpugnáveis do supérfluo, os caixotões de concreto armado, vigas de aço, vidros blindados, as fortalezas ultra vigiadas da luxúria, que acomodam as grifes mais caras e mais bregas prometem segurança total aos bons consumidores, mas não têm defesa contra meninos e meninas que, mesmo sem nadar em dinheiro, trafegam de cabeça erguida pelas galerias que foram feitas para sentenciar sua exclusão.

Os charmosos e requintados consumidores sentem-se constrangidos no meio daquela gente de roupas, tênis, óculos e perfumes baratos. Nem a paranóia direitista nem a ingênua fantasia esquerdista parecem encontrar a razão. O pavor dos comerciantes, a truculência dos seguranças, a desorientação dos políticos, como serão explicados daqui a algum tempo, quando a poeira baixar?

O apoio dos governantes à repressão é complacência com aqueles que desdenham as leis do país e contratam os brutamontes para protegê-los e a seus bons consumidores. Qual é o fundamento legal para impedir a entrada de um jovem da periferia no shopping? Dizem que a proibição é a menores desacompanhados dos pais, mas quando é que um jovem de classe A ou B foi impedido de frequentar o shopping desacompanhado de seus pais?

Pelo menos a uma compreensão esta situação nos leva: os shopping centers são como são, fechados, fortificados, ilhados, para segregar, são o símbolo do apartheid social do capitalismo moderno. Será que eles se sentem no direito soberano de criar leis extraterritoriais?

E agora é a vez da periferia criar um fato social, a importância ainda está para ser concretizada, mas está aí aberta a ferida do moderno e dissimulado apartheid social. Para uns, o transporte individual em carros maravilhosos, as “naves”, para outros, os espremidos, duros, demorados e lentos busões. Para uns, Condomínios Fechados, para outros, Conjuntos Habitacionais, para uns, Planos Privados de Saúde, para outros, TOME SUS. Para uns, Universidades públicas e gratuitas de qualidade, para outros, faculdades pagas e de baixa qualidade, para uns, Duty Free, para outros, Feira Shop, para uns, os Shopping Centers e para os outros, … A RUA! Talvez fosse melhor colocar panos quentes para não mostrar todos os males que estão por trás de um sistema que nocauteou as utopias do Século XX. A promessa das maravilhas do consumo não é para todos? Capitalismo não é sinônimo de democracia?

E deixo a pergunta para um dos maiores mestres do capitalismo: “Henry Ford, o que você sugere para o capitalismo moderno, que criou um rolezão de marketing e merchandising e agora se sente acuado com as marolas dos rolezinhos?”

Comentários
  • Concessa Vaz 3713 dias atrás

    “Em Trautenau há dois cemitérios na igreja,
    Um para os ricos e outro para os pobres;
    Nem mesmo na sepultura
    É o pobre desgraçado seu igual”.

    Poema in Trautenau Wochenblatt,1869.

  • Francisco Rubió 3717 dias atrás

    Entro com a contribuição, com parte de um artigo da edição 3218 de 22/01/14, do jornal Hora do Povo, que complementa o artigo brilhante do Sebastião Verly, sobre os rolezinhos e o pavor (ou terror), espalhado e reproduzido amplamente pela mídia:
    O neoliberalismo nos EUA: pobreza, racismo e campos de concentração (1)

    A política social do neoliberalismo, tal como levada à prática nos Estados Unidos, é a cadeia para os pobres e/ou negros, como constatam os dados dos sociólogos franceses Pierre Bourdieu e Loïc Wacquant, que destacamos no artigo abaixo

    CARLOS LOPES

    Em meio a uma pesquisa sobre a situação e o movimento dos negros, um grande amigo, o maestro Marcus Vinícius de Andrade, fez uma sugestão – ao enviar-nos um texto dos sociólogos franceses Pierre Bourdieu e Loïc Wacquant – que resultou num caminho especialmente, ainda que inesperadamente, fértil.

    O “inesperadamente” da frase anterior vai por conta do seguinte: não sou um admirador dos acadêmicos franceses, devido a tipos como Deleuze, Derrida – e, claro, Foucault, que já era alucinadamente reacionário muito antes de exibir, em 1979, seu deslumbramento com o neoliberalismo (por falar nisso, eis uma pérola dessa época: “Não se trata de deduzir todo esse conjunto de práticas do que seria a essência do Estado em si mesma e por si mesma. É preciso renunciar a tal análise, primeiro, simplesmente porque a história não é uma ciência dedutiva, segundo, por outra razão mais importante, sem dúvida, e mais grave: é que o Estado não tem essência. (…) O Estado nada mais é que o efeito, o perfil, o recorte móvel de uma perpétua estatização, ou de perpétuas estatizações (…). O Estado não é nada mais que o efeito móvel de um regime de governamentalidades múltiplas.” [M. Foucault, aula de 31/01/1979 no College de France, in “Nascimento da Biopolítica”, trad. Eduardo Brandão, Martins Fontes, S. Paulo, 2008, p. 105 e p. 106]).

    No entanto, o texto de Bourdieu e Wacquant nada tem a ver com esse estéril rococó mental. O leitor poderá comprová-lo, pois iremos publicá-lo – talvez de forma condensada – em uma de nossas próximas edições.

    Só não o fazemos hoje pela necessidade, a nosso ver, de propiciar aos nossos leitores um quadro mais amplo que permita um melhor entendimento das questões abordadas por Bourdieu e Wacquant.

    Assim, recorremos ao livro de um deles, Loïc Wacquant, “Punir os Pobres: o governo neoliberal da insegurança social” (por sugestão do próprio autor em seu site, usamos a edição norte-americana – “Punishing the Poor: The Neoliberal Government of Social Insecurity”, Duke University Press Books, Durham and London, 2009 – porque Wacquant desautorizou a versão do livro publicada, “contra minha expressa vontade”, na França em 2004; existe uma tradução brasileira – aliás, existem duas, ambas publicadas pela Revan).

    CHICAGO

    Loïc Wacquant é um caso, talvez, raro. Em uma entrevista, conta ele como, depois de obter “uma bolsa de quatro anos para meu doutorado na Universidade de Chicago (…) ao chegar à cidade de Upton Sinclair (…) vi-me confrontado com o quotidiano da realidade do gueto de Chicago. Habitava nas imediações do bairro negro e pobre de Woodlawn e era um choque terrível ter sob a minha janela aquela paisagem urbana quase lunar, inverossímil de ruína, de miséria, de violência, com uma separação totalmente hermética entre o mundo branco, próspero e privilegiado da universidade e os bairros negros ao abandono em volta (o campus de Hyde Park está rodeado em três lados pelo gueto de South Side e, no quarto, pelo lago Michigan). Isso questionava-me profundamente no dia a dia” – v. Etnográfica vol. 12 (2) (2008), entrevista à Susana Durão.

    Na procura por compreender o que acontecera na história dos negros norte-americanos após o movimento de direitos civis na década de 60, Wacquant, inevitavelmente, confrontou-se com “a expansão espantosa do Estado penal ao longo dos três últimos decênios do século. Entre 1975 e 2000, os Estados Unidos multiplicaram por cinco a sua população sob registro prisional para se tornarem o líder mundial da encarceração, com 2 milhões de detidos – coisa que eu ignorava então (…) como todos os sociólogos que trabalhavam com raça e classe na América.

    “Como se explica esta hiperinflação carcerária? A primeira resposta, a da ideologia dominante e da investigação oficial, é dizer que ela está ligada ao crime. Mas a curva da criminalidade estagnou, entre 1973 e 1993, antes de cair fortemente, no preciso momento em que o aprisionamento levantava voo.

    “Segundo mistério: enquanto a proporção de negros em cada ‘coorte’ de criminosos foi diminuindo durante vinte anos, a sua parte na população carcerária não cessou de aumentar. Para resolver estes dois enigmas, é necessário (…) repensar a prisão como uma instituição política, uma componente central do Estado. Descobre-se então que o surgimento do Estado penal é o resultado de uma política de penalização da miséria, que responde ao crescimento da insegurança salarial e ao afundamento do gueto como mecanismo de controle de uma população duplamente marginalizada, no duplo plano material e simbólico.

    Nesse momento, aconteceu algo que foi crucial para ele, do ponto de vista político: “Clinton avalizava a ‘welfare reform’ de 1996, elaborada pela facção mais reacionária do Partido Republicano. A abolição do direito à assistência social para as mulheres sem recursos e a sua substituição pela obrigação ao assalariamento forçado (dito worfare) é um escândalo histórico, em todo o século XX, a medida mais regressiva tomada por um presidente que era suposto ser progressista. Por indignação política, escrevi um artigo no Le Monde Diplomatique, depois um artigo mais aprofundado para uma revista de geografia política, a revista Hérodote. (…) a atrofia organizada do setor social e a hipertrofia do setor penal do Estado americano eram não somente concomitantes e complementares, mas visavam a mesma população, estigmatizada à margem do salariato. Tornava-se claro que a ‘mão invisível’ do mercado desregulado apela para e necessita do reforço do ‘punho de ferro’ da Justiça criminal”

  • Marcos Henrique 3717 dias atrás

    Concordo com o que diz o texto.
    Contudo, penso que num discurso contra a exclusão o pensamento de um anti-semita fervoroso, financiador no Nacional-Socialismo de Hitler, não seja a melhor referência.

  • José Márcio 3717 dias atrás

    É impressionante como nós brasileiros, que temos um país de clima agradável insistimos em passear em lugares fechados. Como é difícil irmos a praças, lagoa da Pampulha, parques, etc.
    Todos nós gostamos de segurança. E eu tenho ficado impressionado com a maldade do ser humano diante de tantos crimes de motivação absolutamente fútil. Lembro do filme profético “Laranja mecânica”. E nós gostamos e precisamos de segurança.
    Pra mim o capitalismo triunfou e o acho inerente ao ser humano. Resta saber em qual grau queremos a liberdade individual e a igualdade social.
    Tem muitos outros aspectos que precisam ser discutidos no texto, mas não temos tempo para falar tudo.

  • Ruy 3717 dias atrás

    Tanta bobagem que não consegui ler tudo.

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