A magia da criação

Publicado por Sebastião Verly 12 de novembro de 2013

Vejo um belo horizonte. A rua que, de alguns anos para cá, em dias da semana, virou um enorme estacionamento de veículos nos seus dois lados, está completamente vazia neste feriado, dois de novembro. Nem o vigia da rua veio trabalhar hoje. A sua guarita permanece fechada e, lá dentro vê-se, daqui, a cadeira de plástico de cor branca, que também está vazia.

Aqui bem mais próximo, uma árvore “pata de vaca” mostra suas belas flores roxas para contrastar com sua irmã gêmea de cor branca poucos metros adiante. Um pouco à frente, duas árvores de Ipê amarelo, totalmente floridas; num outro ângulo, outro Ipê roxo mais parece uma pintura divina; na mesma direção, e um pouco adiante, um belo flamboyant florido do mais lindo vermelho. O Autor acrescenta em sua bela obra de arte uma fila de palmeiras tipo Areca plantadas pelos moradores daquela esquina e seus vizinhos. A murta ou flor da noite no passeio e em um jardim mais adiante prometem um cheiro agradável para daqui a pouco.

No meio de uma boa parcela de verde vê-se agora as mangas amadurecendo dando a mescla verde amarela um tanto antecipada. A minha predileta goiabeira também apresenta aquele florescer junto com as goiabinhas que eu tanto apreciava na minha infância. Esta semana, a pedido dos moradores, cortaram uma carcomida árvore e agora vejo a copa somente daquela que ostenta o cipó do maracujá.

Uma pequena nesga junto a este bairro permite ver as últimas flores a deixar o direito e a vez às velhas árvores que estão cada dia mais viçosas na Avenida do Contorno que há muito tempo não contorna mais toda nossa capital.

Hoje é dia de finados e a chuva não veio como era esperada todos os anos. Talvez por ser sábado. Não há sábado sem sol, nem domingo sem missa, nem segunda sem preguiça, diz o provérbio. Quem saiu de casa, a não ser para trabalhar, foi visitar seus mortos. Embora em locais e cemitérios com status diferentes todos foram e voltaram com o mesmo respeito.

Lá em cima, o céu mantém umas poucas nuvens e assinala que amanhã poderemos ter chuva novamente. É tempo de a terra receber essa água abençoada. De agora até o final da próxima estação, quando chegam “as águas de março fechando o verão”, como diz a música de Tom Jobim, devem cair chuvas mansas e torós imprevisíveis.

O sol reaparece – numa passagem rápida – e seu reflexo une prédios, a maioria comerciais, às casas e residências e aos barracos das duas favelas vizinhas. A beleza é, posso dizer, infinita. Impossível descrevê-la. Os olhos retêm por minutos esta imensa apresentação fugaz. Imagino Van Gogh, devorando rápido a paisagem antes que os tons de luz se alterassem.

As lâmpadas acendem aqui e ali, e fazem-se notar as luzes nas janelas e especialmente nos barracos das favelas próximas. Parecem lembrar que em breve será o Natal.

Recolho-me aos meus pensares e saberes tão ínfimos e vejo a grandeza que se manifesta no universo que a mente capta e os olhos veem, para sentir essa magia, mistério e beleza da criação em nossa Belo Horizonte.

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