Corrientes 348… digo, Viçosa 153

Publicado por Denise Paiva 16 de março de 2010

Corrientes 348... digo, Viçosa 153

Podemos dizer que a felicidade morou na Rua Viçosa 153, no início dos anos 70, em Belo Horizonte. Certamente! A gente acordava e já tinha uma mesa farta preparada pela Lilia, uma ex-freira que era como uma governanta e nutria um amor platônico pelo Tio Manoel. O sol e o vento devassavam a casa por todos os lados. O “Estado de Minas” chegava bem cedinho trazendo as notícias. Tia Terezinha dormia até tarde.

Tio Manoel era a expressão da generosidade. Até hoje nunca pensei que um anjo pudesse ter habitado a terra, e seu nome era Manoel Barbosa Vieira. Nunca o vi reclamando de nada. Assobiava e dizia que queria construir um prédio de muitos andares para ter por perto todas as pessoas que amava. Quando Tia Terezinha acordava ocupava dois quartos naquela mansão no Bairro São Pedro. Ora o quarto de costura, ora o quarto de pintura!

Costurava divinamente e pintava girassóis, muitos girassóis. Estudou artes na Escola Guignard, tinha seus ídolos de lá e falava deles como semi-deuses. Um deles era o pintor Inimá de Paula.

Corrientes 348... digo, Viçosa 153

Manoel era nosso! Dos filhos, dos sobrinhos, dos parentes, dos amigos, e especialmente das sobrinhas adoradas, eu, Elenice e Janice. Elenice, até mais que nós duas. Manoel gostava tanto de Elenice que chegava a despertar ciúmes não só no seu namorado Aloísio, mas na tia Terezinha.

Tenho lembrado tanto do Tio Manoel, da Rua Viçosa, que tive um sonho lindo com ele de domingo (7/03) para segunda. O sonho era tão real que não tinha vontade de acordar. Eu acordava, lembrava do sonho, dormia de novo e continuava sonhando. A presença do tio Manoel era tão forte, que eu não sei se matei a saudade ou se a saudade dele vai acabar aumentando. E ele estava bem, perfeito, bonito, saudável e, sobretudo feliz, como sempre foi: um homem feliz, do bem, e de bem com a vida.

O sonho muito real. Eu estava, já nos dias atuais, em Belo Horizonte, não tenho muita certeza, não havia muita nitidez, mas creio que com Milton Tavares que faz o portal da Fundação Metropolitana de Belo Horizonte, tem publicado alguns artigos meus, e tem se tornado um grande amigo.

Descia com ele a Rua Viçosa do Alto do São Pedro para a Savassi e comentei: – Ali naquele prédio de apartamento, nº 153, havia uma linda mansão branca com janelas azuis. Vamos perguntar se por acaso o meu tio Manoel não está lá, num dos apartamentos. Estava!  Estava chegando de viagem e trazia presentes para sua linda filha, a bailarina Lucia Vieira.

Era um apartamento pequeno, com apenas dois quartos, muito modesto e com pouca mobília. Lúcia estava feliz e jogava uma toalha sobre a mesa quando eu entrei e indaguei:

– Lucia, como você, que já morou em apartamentos de luxo, consegue viver neste espaço tão simples e tão sem conforto?

Ela me respondeu:

– O Afonsinho vem sempre aqui, a gente ainda se ama, embora não estamos mais casados.

Lúcia estava muito linda e muito feliz ao lado do seu pai, o tio Manoel, sempre com um sorriso largo e generoso.

Era como se aquele apartamento minúsculo, num prédio na Rua Viçosa, parte do legado da mansão de portas abertas, fosse também o melhor lugar do mundo. Havia poucos móveis, era tudo muito apertado, mas isto não fazia a menor diferença!

Comentários
  • Maíra Paiva/ Belo Horizonte 5116 dias atrás

    Tia Denise, gostei muito do seu artigo. Me fez recordar os pouquissimos contatos que tive com Tia Terezinha me dando mingau e do tio Manoel careca, com todo aquele charme. A pintura do Inimá tb é muito bonita, fez uma boa escolha. Parabéns, lerei outros artigos!

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