Transmitindo valores…

Publicado por Antonio Carlos Santini 2 de julho de 2013

Outro dia, um de meus ex-alunos – Luís Alberto Bassoli, hoje destacado educador em Teófilo Otoni, MG – postou um vídeo no Facebook, em que Silvio Matos, no calçadão de Copacabana, ao lado do bronze de Carlos Drummond de Andrade, interpreta com maestria o poema “E agora, José?” Bassoli comentava: “Genial interpretação, do genial Drummond… Como não lembrar Antônio Carlos Santini, fã número 1 do número 1 da poesia brasileira do século XX…”

Seguiu-se o diálogo entre ex-alunos do Colégio Macedo Soares, de Volta Redonda:

Márcio Luiz: “Lembrei-me das apostilas que a gente comprava na cantina…”

Bassoli: “Até hoje, acho que o único professor que escrevia seu livro didático… em todas as turmas… rs…”

Márcio Luiz: “Naquela época não conseguíamos divisar o quanto aprenderíamos com um material tão rico! Fico imaginando como seria editá-lo hoje com os recursos de diagramação, ilustração e impressão que temos quase 40 anos depois…”

E acrescentou: “Já pensou nessa ideia?”

Respondi: “Não pensei, não. Tenho a impressão de que o mundo mudou demais. Vejo os compêndios atuais como um desrespeito à inteligência dos alunos. Conteúdos rasteiros, pobreza de desafios”.

Márcio Luiz: “Nunca me esqueço daquela aula em que chegaste com um gravador e colocaste a música ‘Um homem chamado Alfredo’ para compormos uma redação sobre ela. Tínhamos ali uns 12 ou 13 anos, quando pudemos ter uma verdadeira aula de humanismo, incluindo sociologia, psicologia, antropologia e todas as logias, pela reflexão que fomos convidados a fazer naquela longínqua manhã… Isso é ensinar, é gravar em nossas mentes e corações as lições para o resto da vida!”

Eu respondi: “Eram os nossos disco-fóruns. Muito inspiradores! O professor precisa ter valores e considerar importante transmiti-los. Um conteúdo ‘neutro’ não atrai o educando. Obrigado pela boa lembrança”.

Outro ex-aluno do Colégio Macedo Soares, que participara do mesmo trabalho escolar, entrou no bate-papo:

Adelso Ramos Vilela: “Professor Santini, com essa inspiração toda, escrevi uma redação (que meu pai guardou com ele enquanto vivia) em que, recomendado pelo senhor, fui recebido pelo Padre Gregório, que me premiou com uma estatueta de gesso de São José de Calasanz!”

Bassoli fez um pedido: “Escreve, por favor, até dia 25, um pequeno artigo sobre ‘O professor precisa ter valores e considerar importante transmiti-los. Um conteúdo neutro não atrai o educando’”.

Eu respondi: “Vamos tentar…”

E Márcio Luiz reforçou: “Estaremos aguardando ansiosamente!”

*   *   *

Que posso dizer sobre o tema? Fui um estudante apaixonado. Tive bons professores. Cresci em uma casa com livros e discos. Meu pai me dava o exemplo da leitura, do exercício intelectual, ainda que fosse um simples ferroviário. Visitando meus avós, em Lavras, eu devorava o “Tesouro da Juventude” como quem saboreia a ambrosia do Olimpo. Conhecimento e beleza eram para mim duas faces da mesma realidade.

Aos 16 anos de idade, em Belo Horizonte, foi-me confiada a primeira turma de alunos que se preparavam para o antigo exame de admissão ao ginásio. Minha inclinação natural foi repassar aos estudantes tudo aquilo que pulsava dentro de mim. Seriam 25 anos de trabalho em sala de aula – em certos períodos, 15 aulas diárias! -, convivendo com jovens e adultos, participando de suas angústias e de seus sonhos, treinando o time de basquete, acompanhando o grêmio estudantil, aconselhando adolescentes apaixonadas…

Por outro lado, aprendi muito com os alunos. Por exemplo, quando preparei uma série de projeções sobre História da Literatura (anos 60!), contei com a fotografia do Nilo Toniolo para os eslaides, o gravador do Claudio Yabrudi e a leitura inteligente de Vania Lannes Rocha para o roteiro de áudio.

Sei que fui muito exigente e vários alunos terão queixas a este respeito. Mas todos percebiam que eu vibrava com meu trabalho. Recentemente, uma ex-aluna comentou que eu era muito “opinativo”. E é verdade. O aluno quer saber nossa opinião sobre os fatos, sobre a vida. Se percebe distância entre a pessoa do professor e a mensagem que ele transmite, o estudante se desinteressa. Intuitivamente, ele sabe que a principal lição do mestre é o modelo de pessoa que ele oferece. O aluno vê, compara e escolhe.

É pegar ou largar…

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