II – O Futebol no Brasil – Início – Brinquedo de menino rico

Publicado por Mateus Resende, Abner Faustino e Rafael Orsini 6 de julho de 2017
II – O Futebol no Brasil – Início – Brinquedo de menino rico

II – O Futebol no Brasil – Início – Brinquedo de menino rico

A chegada do futebol ao Brasil ainda gera dúvidas. Não se pode tirar o mérito de Charles Miller, um paulistano filho de pai escocês e mãe inglesa que passou quase dez anos na Inglaterra a estudos, mas há registros de que o futebol já estava presente no Brasil desde a década de 1870. No livro Visão do Jogo – Primórdios do Futebol no Brasil, o historiador José Moraes dos Santos Neto (2002) revela que, em 1872 e 1873, o padre José Mantero teria apresentado a bola de futebol aos seus alunos, do Colégio São Luiz, da cidade de Itu (SP). De acordo com o historiador, o padre teria ido à Europa e voltado com bolas inglesas, feitas de câmara de ar.

Os primórdios do futebol no Brasil estiveram sempre envoltos nas brumas do mito, de onde emergia a figura impávida e bigoduda de Charles Miller, herói meio inglês, meio brasileiro, que teria trazido da Europa uma bola embaixo de cada braço e ensinado sozinho o esporte bretão aos nossos compatriotas. Tal gênese servia como uma luva a determinada visão das origens do nosso futebol, como produto da ação voluntariosa de uma elite em contato direto com as fontes britânicas do esporte (COUTO in SANTOS NETO, 2002, prefácio).

Apesar de o futebol ter “visitado” o Brasil em meados dos anos 1870, coube a Charles Miller chegar ao país em novembro de 1894 com as regras e ideias para o esporte se popularizar. “Todos nós devemos um pouco a Charles Miller. Até mesmo aqueles que, ingênuos, pensam que o futebol ensina pouco sobre a vida” (MILLS, 2005, s/p).

À revista O Cruzeiro em 1952, Miller contou como foi a organização da primeira partida de futebol no Brasil. “Numa tarde fria de outono, reuni os amigos e convidei-os a disputarem uma partida de futebol. Aquele nome por si só, era novidade, já que naquela época só conheciam o críquete. Perguntaram como era o jogo e com que bola se jogava. Eu tinha a bola, só era preciso enchê-la”.

Ao jornalista Thomaz Mazzoni, da Gazeta Esportiva, em 1942, Miller detalhou:

Logo que nos sentimos traquejados, e que o número de praticantes do jogo havia crescido, convoquei a turma para o primeiro cotejo regulamentar: ‘The Gas Works Team’, formado por funcionários da companhia, contra ‘The São Paulo Railway Team’, formado por funcionários desta ferrovia. Foi em 14 de abril de 1895. Ao chegar ao capinzal, a primeira tarefa que realizamos foi enxotar os bois da Cia Viação Paulista, que tosavam a relva pacificamente. Logo depois iniciávamos nosso jogo, que transcorreu de forma interessante, sendo que alguns dos companheiros jogaram mesmo de calças compridas, por falta de uniforme adequado. (TRIVELA, 2015, s/ p.).

Charles Miller conta que a ‘The São Paulo Railway Team’ venceu por 4-2, time do qual ele fazia parte, e que, os agora jogadores de futebol, firmaram o compromisso de promover mais partidas.

Após o sucesso das primeiras partidas, o futebol foi ganhando popularidade no Brasil. Nos primeiros anos, com o incentivo das classes dominantes, o esporte foi ganhando notoriedade.

Foi com jovens de boas famílias como a sua, até então interessados em críquete, golfe, tênis e similares, que Charles plantou a semente. Ensinou-lhes os fundamentos do futebol, dividiu-os em dois times, escalou um dos seus amigos para juiz, outro para bandeirinha, e lá foram todos fazer história na várzea do Carmo. Depois, realizaram novos jogos em campo literalmente mais nobre: o gramado da chácara da também britânica família Dooley, no bairro do Bom Retiro. Daí, sempre entre a elite, foi surgindo os primeiros times de verdade. Em 1896, o São Paulo Athletic Club, fundado oito anos antes, seria o primeiro a aderir ao novo esporte, logo seguido do Sport Club Germania (1889), de Mackenzie Athletic Association (1898), Sport Club Internacional (1898), Clube Atlético Paulistano (1900), já com nome aportuguesado. Em Campinas, fundou-se a Associação Atlética Ponte Preta (1900). No Rio de Cox, o Fluminense Foot-ball Club (1902), o Rio Foot-ball Club (1902), o Botafogo Foot-ball Club, o America Foot-ball Club, o Bangu Athletic Club (os três últimos em 1904). Flamengo e Vasco da Gama já existiam desde o fim do século, ambos dedicando-se ao remo: o primeiro, só criaria seu departamento de futebol em 1911; o segundo, em 1923. Em Porto Alegre, foi fundado o Esporte Clube Rio Grande (1900); em Minas, o Sport Club Belo Horizonte (1904); em Recife, o Club Náutico Capeberibe (1901); em Salvador, o Vitória Foot-ball Club (1905). Vale ressaltar que há apenas um ponto comum entre todos os momentos dessa gênese: aqui e ali o futebol brasileiro nasceu como brinquedo de menino rico. (MÁXIMO, 1999, s/p).

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