Momento

Publicado por Leila Gebrim 27 de julho de 2017
momento

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Até que ponto se pode morrer em vida. Em que momento lutar deixa de ter sentido. Como se afasta a dor de não pertencer, de ter partido sem saber que se partiu. São tantas frases atropelando o juízo que nem chegam a ser perguntas, mesmo porque nem sei se cabem respostas.

Lembrar que um dia fui filho antes de ser pai, ser filha antes de ser mãe, que a noite me pariu antes do clarear, que clareando achei que fazia uma vida, que dando ramos seria uma árvore ou arbusto, ou mesmo só um galho, mas terminar seco nunca imaginei.

São estas as questões que a gente nem sonha na juventude, nem sabe que o amanhã sempre chega e que nunca mais será ontem.

Dói tanto que chega a dilatar o aspirar até esquecer-se de respirar. Como foi que morri sem avisar previamente a mim mesmo. Não porque não queria ou não devia, mas sim porque queria ter sido presente neste ir afundando num tempo sem tempo e num espaço que não era meu. Pequei de soberbia, talvez me acreditei um deus anão, sem jeito para nada mais que comer e dormir, vegetar e quem sabe, com gozo, amar sem saber amar.

Dando por certo que tudo se fazia conforme se fazia, sem usar mais que um ”’dez por cento da minha cabeça animal.” Não foi por falta de aviso – Avisaram pais, irmãos, amigos e trovadores. A Vida não é uma festa, mas, cego pelo brilho da palavra Arbítrio, fui contra total tino buscar a felicidade numa vida cheia de certezas, deveres e compromissos que não percebi que o riso valia ouro, que o olhar de um filho por um segundo fugaz valia mais que todo o poder, nem guardei o som da voz de meu pai, ou o ái! de dor da minha alma.

Esqueci a beleza do canto do pássaro, o ruído do mar passou a ser somente bramidos e o medo: AH!, o medo, este assassino da vontade foi se instalando e sussurrando, pra ver se sobrevives. E aí quando quis recuperar o riso já o tinha soterrado. Quando fui em busca de pai, o meu tinha virado lembrança, quando quis rever um amigo esse já era um ponto luminoso e abrir os braços para acolher era impossível. Era um tronco seco, sem galhos. Por isso lamento, por não ter percebido que ao tentar ser um homem, perdi toda minha humanidade. Confundi viver e dever, amar e cumprir, estar e fugir, mostrar e esconder. Fui um perfeito cidadão e um péssimo filho de Deus. Agora, que nem chorar sei, lamento o ardor dos olhos secos, das mãos tolhidas, da cabeça atrofiada e me escondo na solidão de estar vivo estando morto!

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