Mário Quintana – frases VIII

Publicado por Editor 16 de abril de 2013

Devaneios, reflexões

O auto Retrato
No retrato que me faço
– traço a traço –
às vezes me pinto nuvem,
às vezes me pinto árvore…
às vezes me pinto coisas
de que nem há mais lembrança…
ou coisas que não existem
mas que um dia existirão…
e, desta lida, em que busco
– pouco a pouco –
minha eterna semelhança,
no final, que restará?
Um desenho de criança…
Terminado por um louco!

Se as coisas são inatingíveis… ora!
Não é motivo para não querê-las…
Que tristes os caminhos, se não fora
A presença distante das estrelas!

Hoje me acordei pensando em uma pedra numa rua de Calcutá.
Numa determinada pedra numa rua de Calcutá. Solta. Sozinha.
Quem repara nela? Só eu, que nunca fui lá.
Só eu, deste lado do mundo, te mando agora esse pensamento…
Minha pedra de Calcutá!

Dos nossos males
A nós bastem nossos próprios ais,
Que a ninguém sua cruz é pequenina.
Por pior que seja a situação da China,
Os nossos calos doem muito mais…

Que importa restarem cinzas se a chama foi bela e alta?

Inscrição para um portão de cemitério: “A morte não melhora ninguém…”

Diálogo noite adentro
– Mas há as que nos compreendem…
– Ah, essas são as piores!

Os que metem uma bala na cabeça retiram-se deste mundo batendo com a porta.

Do bem e do mal
Todos tem seu encanto: os santos e os corruptos.
Não há coisa na vida inteiramente má.
Tu dizes que a verdade produz frutos…
Já viste as flores que a mentira dá?

Há noites que eu não posso dormir de remorso por tudo o que eu deixei de cometer.

Cada pessoa pensa como pode…

E um dia os homens descobrirão que esses discos voadores estavam apenas estudando a vidas dos insetos…

A maior dor do vento é não ser colorido.

A gente não sabia
A gente ainda não sabia que a Terra era redonda.
E pensava-se que nalgum lugar, muito longe,
Deveria haver num velho poste uma tabuleta qualquer
– uma tabuleta meio torta
E onde se lia em letras rústicas: FIM DO MUNDO.
Ah! depois nos ensinaram que o mundo não tem fim
E não havia remédio senão iremos andando às tontas
Como formigas na casca de uma laranja.
Como era possível, como era possível, meu Deus,
Viver naquela confusão?
Foi por isso que estabelecemos uma porção de fins de mundo…

Sempre
Jamais se saberá com que meticuloso cuidado
Veio o Todo e apagou o vestígio de Tudo
E quando nem mais suspiros havia
Ele surgiu de um salto
Vendendo súbitos espanadores de todas as cores!

Da vez primeira em que me assassinaram
perdi um jeito de sorrir que tinha…
Depois, de cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha.

O Tempo e o Vento
Havia uma escada que parava de repente no ar
Havia uma porta que dava para não se sabia o quê
Havia um relógio onde a morte tricotava o tempo
Mas havia um arroio correndo entre os dedos buliçosos dos pés
E pássaros pousados na pauta dos fios do telégrafo

E o vento!
O vento que vinha desde o princípio do mundo
Estava brincando com teus cabelos…

Que esta minha paz e este meu amado silêncio
Não iludam a ninguém (…)
Acho-me relativamente feliz,
Porque nada de exterior me acontece
Mas, em mim, na minha alma,
Pressinto que vou ter um terremoto.

Passageiro Clandestino
“No porta-mala do meu automóvel
Levo um anjo escondido…
Quando chegamos a um descampado,
Ele sai lá de dentro, distende as asas, bela como a vitória
E ai, então, nos seus ombros, dou uma longa volta pelos céus da cidade…

Dicionário

Sonho: um poema que ao lê-lo, nem sentirias que ele já estivesse escrito, mas que fosse brotando, no mesmo instante, de teu próprio coração.

Do Estilo: o estilo é uma dificuldade de expressão.

Linha Curva: o caminho mais agradável entre dois pontos.

Linha Reta: linha sem imaginação.

Melancolia: maneira romântica de ficar triste.

Ao Pé da Letra: enforcar-se é levar muito a sério o nó na garganta.

Vento: pastor das nuvens.

Sinônimos: esses que pensam que existem sinônimos, desconfio que não sabem distinguir as diferentes nuanças de uma cor.

O verdadeiro analfabeto é aquele que sabe ler, mas não lê.

Verbetes

Infância – A vida em tecnicolor.

Velhice – A vida em preto-e-branco.

Nós – o pronome do rebanho.

Viajar – mudar o cenário da solidão.

A Psicanálise? Uma das mais fascinantes modalidades do gênero policial, em que o detetive procura desvendar um crime que o próprio criminoso ignora.

A Imaginação – é a Memória que Enlouqueceu.

Paz – os caminhos estão descansando.

‘Diabético’ – é quem não consegue ser doce.

‘Anão’ é quem não sabe deixar o amor crescer.

Luar – é a luz do Sol que está sonhando.

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