Poesia
Publicado por Antonio Carlos Santini
Data da publicação: 19/04/2018
Os dias são o fio de uma trama Que a História vai tecendo ponto a ponto E, enquanto existe vida, não está pronto O risco do bordado de quem ama. Um lado do tapete não reclama Do avesso que lhe faz o contraponto, Mas a lã branca sempre dá desconto Ao fio negro que rolou na lama. Pessoas são tecidas lentamente: Não são desenhos feitos de repente Nem gesto aleatório do sujeito… E Deus, que tem nas mãos a sua agu...
Publicado por Antonio Carlos Santini
Data da publicação: 12/04/2018
Cruzando as ruas tristes da cidade, Talvez, ao longe, há de escutar um sino Que convida você a ser divino: - Não se contente em sua humanidade! Eu sei: você contempla a Imensidade Com saudade das asas de menino Roubadas pelo vento de destino Precocemente, na primeira idade… Não sufoque a saudade! Não sufoque Esse soluço que lhe causa um choque Quando vê a criança no jardim… Deus trabalha em você: tece o f...
Publicado por Antonio Carlos Santini
Data da publicação: 09/04/2018
Estive bem aqui, quando criança, Na margem deste rio sussurrante, Mas permanece vivo aquele instante Que ainda se reflete na água mansa. O tempo é como o rio, e não se cansa De prosseguir no fluxo itinerante: Nada o impede de seguir adiante, Pois vê no mar apelos à esperança… Andei errante pelo mundo a esmo E volto a este local: parece o mesmo Que mil saudades ao meu peito traz! O rio corre. Calmamente, corre. Diz...
Publicado por Antonio Ângelo
Data da publicação: 03/04/2018
eu e minha mãe fomos ao campo onde fica a lápide sob a qual repousam meus pai e irmão tempo nublado frio ela em roupas escuras luto que nunca termina na face envelhecida marcas de sofrimentos vida desabitada de sonhos observo-a desconfio de seu desejo de enfim desfazer-se de uma fadiga insolúvel precipitado afirmar no entanto ou supor ser ela a primeira a ir ao encontro dos que ali jazem — talvez eu me mate talvez sa...
Publicado por Antonio Ângelo
Data da publicação: 14/03/2018
A Poesia? Desceu a rua virou a esquina, seguiu pelo beco entrou no boteco onde numa vitrola gemiam boleros de incandescentes paixões Era madrugada e o sol não demoraria a raiar Um homem, ao balcão com cicatrizes na face na mesa ao lado mulher fumando coxas acariciadas pelo companheiro Pediu uma dose depois outra por ali ficou absorta tomada pelas canções que acendiam em sua memória estilhaços de um tempo ido Ao surgir o...
Publicado por Antonio Ângelo
Data da publicação: 08/03/2018
Quem é a Verônica? É Vera, que outro dia caminhava na biblioteca em meio às estantes à procura de um livro? Seria aquela moça agora a emitir seu canto triste que escorre pelas ladeiras rumo às campas nas encostas? O vos omnes qui transitis per viam Um véu cobrindo o rosto vestes agitadas ao vento escondendo o corpo esguio braços erguidos aos céus Quem é Verônica, digam-me que nos concita ao remorso de o Outro conde...
Publicado por Antonio Ângelo
Data da publicação: 28/02/2018
Todo caminho é inútil Se o não traçarmos Todo grito é inútil Se o não gritarmos Todo amor é inútil Se o não louvarmos O milagre só acontece Se como Tomé duvidarmos Todo ódio não se sustenta Se não nos atrevermos a tê-lo Compartilhar este Artigo
Publicado por Antonio Ângelo
Data da publicação: 01/02/2018
Na casa sem livros um arco-íris não se mostra na janela nem um rio desliza na sala sob a mesa Começa a manhã quando nem se encontra o canto do pássaro O riso no quarto e as molecagens das crianças se contêm Ao café, ao almoço não tem o Seu Moço com olhos cismarentos de uma noite mal dormida O avô conta casos que ninguém ouve garotos não querem brincar à sombra da mangueira numa tarde sem cigarras A mocinha não ...