“Eu sou o pão da vida!”, João, 6, 48

Publicado por Carlos Scheid 5 de junho de 2017
eu sou o pão da vida

eu sou o pão da vida

À beira do deserto líbio, cresceu uma comunidade de monges cenobitas. Em dez anos, os monges já passavam de 50 professos e outro tanto de noviços. Pelas aldeias da redondeza, logo correu a fama de sua santidade.

Assim que a notícia chegou ao bispo, S. Exª nomeou um conhecido teólogo como Visitador Apostólico. Afinal, santidade sempre foi motivo de sérias preocupações.

Depois de longa e arenosa viagem pelo deserto, o Sr. Visitador saltou da carruagem puxada a burro, cuspindo tijolos de poeira suficientes para erguer uma nova ala do mosteiro.

Bem recebido, foi levado para sua cela, onde tomou um demorado banho de tina e dormiu até o alvorecer. Acordou com suaves batidas na porta. Um noviço trazia-lhe frutas, pão caseiro e leite de cabra.

Durante dois dias – até que a carruagem voltasse a Trípoli – o Sr. Visitador inspecionava tudo. No pátio, à sombra de uma tamareira, ele viu Pai Sinfrônio, que fabricava flechas de teixo. Perguntou ao noviço que o acompanhava:

– Este é o monge que tem fama de santidade?
– Pai Sinfrônio?! – estranhou o jovem. Ele é famoso por outro motivo… Sua boa mira!
– Como assim?
– Ora, certa vez, acertou o olho de uma raposa a 800 metros de distância!

O Sr. Visitador foi adiante. Na biblioteca, estava Pai Hilário, afinando um alaúde de doze cordas. Perguntou ao noviço:

– Ele compõe hinos gregorianos?
– Acho que não, senhor… Ele compõe modinhas populares. Algumas delas são famosas na Corte do Imperador!
Balançando a cabeça em sinal de desaprovação, o Sr. Visitador dirigiu-se ao subsolo. Na adega, Pai Longino, já velhinho, magro e reto como um varapau, fervia ervas raras em um caldeirão de cobre.
– Preparas um linimento?
– Não, senhor. É nosso licor de uvas silvestres…
– Suco de uva… você quer dizer…
– Não. É licor mesmo. Um vinho bem doce…
– Com álcool? – espantou-se o Visitador.
– Sim.
– Mas o álcool faz a desgraça do povo!

Pai Longino esticou o indicador sobre os lábios, corrigindo-o:

– Psit… O vinho alegra o coração do homem!

* * *

Ao terceiro dia, passou de volta a carruagem e o teólogo acompanhou os burros. Foi logo comentando com o cocheiro:

– Santos?! Grandes salafrários é que eles são!
– Quem?
– Os monges, ora… Não valem o pão que eles comem!

O cocheiro espantou-se:

– O senhor diz… comer?!
– Sim! Comer pão, carne, frutas…

De olhos arregalados, o cocheiro gaguejou:

– Então, o senhor passou três dias no mosteiro… e não descobriu?
– Não descobri o quê?
– Ora, que há dez anos, desde a fundação do mosteiro, esses monges não comem nada?
– É mesmo? E vivem de quê?!
– Ora, vivem do Pão do Livro e do Pão da Missa… E, entre eles, há tanta alegria e tanta paz, que nem se lembram de ter fome!

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