Leio em “O Globo” [25/10/14] uma notícia no mínimo curiosa no campo do reaproveitamento de recursos naturais. A empresa suíça Nestlé, maior produtora de alimentos no planeta, é a primeira a administrar uma fábrica com autossuficiência de água. A unidade de laticínios Cero Agua, inaugurada recentemente na Região Oeste do México, é a única fábrica do mundo que não utiliza fontes externas de água.
A fábrica retira diariamente 1,6 milhão de litros do precioso líquido do leite de vaca que ela transforma em pó. Isso reduzirá o consumo de água da Nestlé no México em 15% ao ano, de acordo com a multinacional.
Segundo afirma o diretor-executivo da Nestlé, Paul Bulcke, na unidade da empresa em Lagos de Moreno, no Estado de Jalisco, não será utilizada nem uma gota de água de fontes externas. Como o México tem uma estação seca muito longa, a água é um bem muito precioso em quase todas as regiões do país.
Fico pensando naquele velho fazendeiro que insistia em aumentar seu leitinho caipira acrescentando o líquido incolor, insípido e inodoro que brotava da minazinha ao pé do morro e, vez por outra, tinha seu produto rejeitado pela cooperativa. O coitado nem imaginava que, um dia, aquela aguinha mansa seria mais preciosa que o leite de seu gado curraleiro.
Claro que isso faz pensar! Que riquezas estamos desperdiçando além da casca das frutas, os talos da couve ou mesmo a uréia de nossos dejetos humanos? De onde mais podemos extrair a água que exportaríamos para os paulistas desidratados?
O fato é que a notícia já fez arregalar o olho de muito investidor, que antevê novas fontes de lucro a partir daquilo que se jogava fora. A própria Nestlé já informa que pretende exportar o processo de “água zero” para outras de suas fábricas espalhadas no mundo. Seu investimento de 200 milhões de pesos mexicanos (US$ 15 milhões) para construir a fábrica de laticínios em Jalisco é apenas a bolinha de neve de imprevista avalanche.
Da produção total de 1,4 milhão de litros de leite fresco processado por dia, a Nestlé extrai nada menos que 1 milhão de litros de água purificada, a ser novamente aplicada no processo de produção. Depois disso, 600 mil litros são reciclados e tratados uma segunda vez para uso não potável.
Se a fonte da notícia é pura, a economia de água equivale ao consumo médio diário de 6.400 pessoas no México, ou à quantidade necessária para encher uma piscina olímpica. Enquanto o leite em pó vai para a lata e a água volta à circulação, as vaquinhas já sabem que entraram pelo cano.
A multinacional informou ter reduzido sua captação de água em 33% por tonelada de produção desde 2005. É a mesma empresa que comercializa várias marcas de água, entre elas a Perrier, a Vittel e a Pure Life.
Meu amigo Vivaldo, pequeno produtor de queijos frescal, mais avarento que o Pai Goriot, já está pensando em vender seu queijo liofilizado. Aquela aguinha que o queijo dessora é preciosa demais para ser perdida. Ele faz jus ao nome de batismo…
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