Alheamento

Publicado por Antonio Ângelo 1 de fevereiro de 2013

Alheamento

Nos sonhos

espaços sem contornos

neblinas

abismos ora claros

ora escuros

deslocamentos de formas indefinidas

manchas embrionárias.

Uma pessoa: de que se trata?

Um rosto?

Sonha com os olhos da mãe

cujas órbitas tateou

com a mão calosa do pai

o perfil que da irmã apreendeu

quando esta lhe sorria.

Há a realidade: a cadeira

a televisão

o cão em seu colo

o ruído do tráfego

entrando pela janela.

Nos sonhos

sobrepõem-se lácteas vias

deliquescências

brumas

inconformados horizontes.

Impossibilidade das manhãs

plenas de luz

mas incapazes

de para ele desvendarem

mísera amostra de cor.

Noite se faça

sendo perpétua

sudário se estendendo

além desertos

desprovidos de oásis.

Comentários
  • Marcos Apolnário Santana 4081 dias atrás

    Uma obra prima da poética belorizontina. Os passos do autor desvendam trincheiras que vão com o vento.
    Marcos Apolinário Santana (Olinda-PE)

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