Pra Ser Um

Publicado por Antonio Carlos Santini 27 de junho de 2017
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Nosso “espírito de corpo” é muito forte. Experimentamos uma inclinação natural a nos fechar em pequenos grupos, igrejolas frequentadas exclusivamente por gente que se parece conosco: mesma pele, mesmo idioma, mesmo credo, mesmo jeito de rezar. Que pena!

Jesus – o Bom Pastor – diz com todas as letras que ele tem outras ovelhas em outros apriscos. A frase do Senhor está no Evangelho de João (10,16). E Jesus acrescenta: “Também delas eu devo cuidar”.

O anseio profundo do Salvador, manifestado claramente em sua oração antes do Getsêmani, é que “todos sejam um”. Aliás, seu exemplo não deixa nenhuma dúvida a esse respeito. Jesus curou judeus e samaritanos, atendeu aos patrícios e aos goyim: não-judeus como o centurião romano e a sírio-fenícia com sua filha endemoninhada.

No início da Igreja, na hora de iniciar a missão evangelizadora, ainda havia gente “da casa” pensando que a Boa Nova seria anunciada exclusivamente ao Povo Escolhido. Para surpresa geral, a visão da toalha (cf. At 10) ensina Pedro, o 1º Papa, a “não chamar de impuro o que Deus tinha purificado”. E logo a seguir, o Império Romano helenizado ouvia a pregação de Paulo, desde Atenas até o extremo da Hispania.

Após o Concílio Vaticano II, não podemos mais hesitar a respeito deste ponto: o anseio ecumênico corresponde a um desejo íntimo do Senhor Jesus. Não podemos ignorá-lo nem combatê-lo. Seria mais uma traição. Claro que isto é difícil. Se fosse fácil, já o teríamos feito…

Entre outros gestos realizados pelos papas, desde João XXIII, o saudoso João Paulo II publicou em maio de 1995 uma encíclica sobre o empenho ecumênico: “Ut Unum Sint”, ou “Para Ser Um”. Ali, o Papa lembrava os mártires não católicos que deram sua vida pela fé em Jesus Cristo: “Estes nossos irmãos e irmãs, irmanados na generosa oferta de suas vidas pelo Reino de Deus, são a prova mais significativa de que todo elemento de divisão pode ser vencido e superado com o dom total de si mesmo à causa do Evangelho”. (Nº 1)

E mais: “Os crentes em Cristo não podem permanecer divididos. Se querem verdadeiramente fazer frente à tendência do mundo a tornar vão o Mistério da Redenção, os cristãos devem professar juntos a mesma verdade sobre a Cruz.”

Recebi recentemente uma publicação da Editora Ultimato, Viçosa – MG, que nos leva a refletir sobre os males da “polarização” nos meios religiosos. Trata-se do excelente livro de John Stott, “Cristianismo equilibrado”, onde o autor nos convida a superar as barreiras comumente erguidas entre conservadores e radicais, formalistas e libertários, razão e emoção, evangelismo puro e ação social.

Stott define esta polarização, que transforma fiéis em adversários, como autêntica “tragédia”. De fato, quem nos vê de fora reage em uma espécie de escândalo ao perceber que gente “religiosa” no seguimento do mesmo Mestre ergue barricadas e aponta lanças contra todo tipo de “diferente”.

Pensando bem – e Stott fala sobre isso -, o próprio Jesus era ao mesmo tempo conservador, em relação às Escrituras: “não vim abolir…” … e radical, em seu escrutínio bíblico: “o sábado foi feito para o homem…”. Em sua pessoa, não se notam as polarizações que costumam nos entrincheirar em campos opostos.

O mínimo que podemos fazer é, desde já, intensificar nossas orações pela unidade dos cristãos.

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