Onde estão as vocações religiosas?

Publicado por Antonio Carlos Santini 29 de março de 2017
onde estão as vocações religiosas

onde estão as vocações religiosas

Na minha infância, chegávamos à beira do Rio Pitangueiras e alguém reclamava:

– Hoje está ruim… Nem um beliscão!

Meu pai cortava o queijo Dana em quadradinhos, municiava os dois filhos e, assoviando baixinho, deixava a primeira isca correr bem na beirada, junto a uns engastalhos. Um puxão e lá vinha o primeiro piau. Logo viriam outros, as escamas brilhando ao sol. Os peixes estavam ali tempo o todo, mas os pescadores procuravam no lugar errado…

Agora, podemos responder à pergunta do título. Onde estão as vocações? Estão por aí. Parece que já não estão nos colégios ou nas paróquias, mas devem estar em algum lugar, pois Deus não parou de chamar novos discípulos.

Vale a pena lembrar a intuição do Padre Jean Joseph Lataste, 1832-1869, dominicano francês, fundador das Irmãs Dominicanas de Béthanie. Segundo o depoimento de Irmã Pia Elisabeth, atual Superiora Geral da Congregação, nos primeiros 40 anos da fundação, professaram na Maison Béthanie 193 mulheres, a maioria provenientes de presídios. E ali permaneceram até a morte.

Está claro que as vocações existiam. Estavam na cadeia. O “faro” do Padre Lataste foi encontrar suas “irmãs” – assim ele as chamava – onde pouca gente imaginaria encontrar os peixes…

Há algum tempo, Dom Redovino Rizzardo, Bispo de Dourados, MS, falava da jovem a quem perguntaram: “Por que você só vive de baladas e bebedeiras em todos os finais de semana?” A resposta da moça, diz ele, foi tão rápida quanto provocadora: “Porque, até hoje, ninguém me ofereceu algo melhor!”

Tudo isto faz pensar que é preciso lançar as redes em outros pesqueiros: fábricas, discotecas, lan houses, favelas ou mesmo em nossos presídios. Eis o que diz Irmã Pia Elisabeth, citando o Padre Lataste: “Deus tem o poder de transformar uma vida”.
E exemplifica com a unidade de Betânia criada em uma prisão de homens, em Norfolk, EUA. “Cerca de quarenta detentos formaram comunidade, rezam juntos, estudam a Sagrada Escritura e se engajaram como leigos na Ordem dominicana. Alguns deles estão condenados à morte”.

Um desses leigos dominicanos declara: “Eu encontrei neste grupo uma nova família onde me sinto acolhido, amado e sustentado”. Outro membro dizia a Irmã Pia: “Neste grupo, eu aprendi o que é ser irmão, ter irmãos, e só posso dar graças por isso”.

Exemplo de sabedoria no campo das vocações foi Dom Bosco, cuja biografia acabo de traduzir do italiano. Um de seus primeiros discípulos, Dom Michele Rua, dá o testemunho: “Desde os primeiros tempos em que Dom Bosco começou a cultivar os jovens nos estudos, teve entre eles indivíduos de idade um tanto madura, os quais, não podendo seguir a carreira eclesiástica durante sua adolescência, por vários motivos, empreenderam-na tão logo se acharam livres dos impedimentos. Dom Bosco percebia neles, em geral, muita aplicação, fervorosa piedade e boa vontade em prestar serviços em favor de seus companheiros mais jovens, para os ajudar e assistir, servi-los no refeitório etc. Notou também que o sucesso desses jovens na carreira eclesiástica era muito mais seguro que entre os garotos, de modo que costumava dizer que, entre eles, de dez que começavam os estudos de latinidade, oito obtinham pleno sucesso.”

Neste início de Séc. XXI, o Caminho Neocatecumenal faz o mesmo trabalho, localizando vocações eclesiásticas em uma faixa etária normalmente esquecida pelos seminários dos institutos religiosos e das dioceses.

Parece que chegou a hora de rever os critérios sobre os quais traçamos o perfil dos vocacionados. Aqueles menininhos com a roupinha branca da Primeira Comunhão não existem mais. O mundo mudou…

Mas as vocações continuam por aí…

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Foto: Catholicsun.org

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