Esse sujeito chamado leigo – parte VI

Publicado por Antonio Carlos Santini 6 de junho de 2018

Esse sujeito chamado leigo – parte VI

Foto: Avvenire

Madeleine é uma jovem leiga. Tem 17 anos de idade. Filha e neta de ferroviários, mesmo batizada e tendo feito a primeira comunhão, depois de estudar Filosofia e Artes ela se declara pelo ateísmo. Mas Deus tem planos para ela…

Inesperadamente, seu noivo interrompe o noivado para entrar na Ordem dos Pregadores, os Dominicanos. Logo em seguida, morre o pai de Madeleine. Um vazio inunda sua vida. Em contato com jovens cristãos, ela examina a hipótese de Deus e dedica tempo à oração.

Por meio do escotismo, torna-se assistente social e trabalha na periferia operária em Ivry-sur-Seine, a única prefeitura comunista da França em 1933. Exatamente ali, Madeleine pode confrontar o ateísmo marxista e o Evangelho de Jesus Cristo. 49 anos mais tarde, seria publicado postumamente o seu livro “Ville marxiste, terre de mission” [Cidade marxista, terra de missão], em que ela avalia as teses do marxismo como autêntico desafio à descoberta de Deus.

E foi nas ruas, em contato com os mais pobres, que ela encontrou o Deus que antes negava. Acotovelando-se com os comunistas, colabora no que julga possível, mas se nega a toda ação que representasse um ato direto contra Deus.

Como leiga, ela funda uma comunidade de moças chamadas de “La Charité”, mais tarde conhecida como “Equipes Madeleine Delbrêl”. Seu lema? “Ser o Cristo ali”, isto é, no meio operário. Seu método? Fazer contato com as pessoas onde elas vivem, fazer amizade, recebê-las em casa, ajudar-se mutuamente. Outro de seus livros – “Nós, gente da rua” – desenvolve seu “método” de ser uma leiga cristã mergulhada em plena missão.

E assim temos uma definição para o leigo: gente da rua! Não é gente da sacristia nem do presbitério. Não usam paramentos nem tentam ensinar o padre-nosso ao vigário. Não fazem campanha para deterem mais poder na Igreja. Misturam-se à gente comum – inclusive os ateus – e irradiam um amor que não se encontra em outros meios.

A causa de beatificação de Madeleine Delbrêl foi introduzida em Roma em 1990. Em 26 de janeiro de 2018, o Papa Francisco autorizou a Congregação para a Causa dos Santos a promulgar o decreto que reconhecia as virtudes heroicas de Madeleine, tornando-a Venerável.

Curiosamente, o jornal italiano “Avvenire”, em matéria de 27/01/2018, define Madeleine Delbrêl como “uma das maiores místicas do Séc. XX”. Mística? Sim. Sem visões, sem êxtases, sem estigmas, mas irradiante de amor, demonstrando que existe uma mística do serviço ao próximo, certamente mais útil ao nosso tempo que outras variantes medievais.

O documento 105 da CNBB, que dá as linhas gerais para o Ano do Laicato, fala da espiritualidade de comunhão e missão. “Em sua inserção no mundo, os cristãos leigos são convidados a viver a espiritualidade de comunhão e missão. Comunidade missionária, a Igreja está voltada ao mesmo tempo para dentro e para fora, num movimento de sístole e diástole. A espiritualidade de comunhão e missão tem seu fundamento na comunidade trinitária e no mandamento do amor.”

“O outro não é apenas alguém – prossegue o Documento -, mas um irmão, dom de Deus, continuação da Encarnação do Senhor. As atitudes de alteridade e gratuidade são expressão da espiritualidade de comunhão. O outro é diferente de mim. E essa diferença nos distingue, mas não nos separa. Espiritualidade de comunhão e missão significa respeito mútuo, diálogo, proximidade, partilha, benevolência e beneficência.” (nº 193)

Madeleine Delbrêl se encaixa com perfeição neste quadro. Alegre e bem-humorada, é delicada sem perder a firmeza. Com notável capacidade de empatia, ninguém estava excluído de seu círculo de relações. Algo parecido com o antigo comentário sobre os primeiros cristãos: “Vejam como eles se amam!”

Comentários
  • LogPress Transportes 2121 dias atrás

    Que Deus Abençoe está mulher, e que possamos ter mais pessoas com a unica finalidade ajudar o próximo.

  • Multi Taxi 2121 dias atrás

    Parabens por mais pessoas assim.

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