Alemanha: escolas para refugiados

Publicado por Antonio Carlos Santini 3 de junho de 2016
325.000 crianças refugiadas entraram na Alemanha em 2015. As autoridades regionais enfrentam o desafio da escolarização.
325.000 crianças refugiadas entraram na Alemanha em 2015. As autoridades regionais enfrentam o desafio da escolarização.

 

No ano de 2015, o número de refugiados que pediram asilo na Alemanha chegou a um milhão. Entre estes, 325 mil crianças em idade escolar. Matéria do jornal francês “La Croix” de 5/01/16, assinada por Delphine Nerbollier, fala dos esforços do governo alemão para acolher crianças curdas e iraquianas, sírias e afegãs, ajudando-as a dar os primeiros passos no idioma de Goethe.

Fadi, curdo, 12 anos, e Diana, proveniente da Rússia, são dois desses pequenos integrados em uma classe chamada de “Wilkomensklasse” , ou classe de boas-vindas. Na prática, essas turmas lembram Babel, com jovens falantes de seis ou mais idiomas.

Integração pela língua

Os educadores alemães sabem que a integração desses novos cidadãos passa necessariamente pelo aprendizado do idioma local. O professor Detlef Schmidt-Ihnen, diretor do Colégio Barnim, em Berlim, afirma que “o objetivo é que os alunos aprendam a língua tão rápido quanto possível, a fim de poderem integrar uma classe tradicional no próximo início do ano escolar”.

Com o financiamento das autoridades berlinenses, uma escola desativada foi requisitada para a experiência. Foram contratados dois educadores especializados no ensino do alemão para estrangeiros, aos quais foram confiados 14 alunos de diferentes idades, diferentes culturas e nível de escolaridade. Mais 18 salas seriam ocupadas nos próximos meses.

Chama a atenção o alto grau de motivação das crianças, mesmo que parte delas não consiga autorização para permanecer em definitivo no país, em especial as provenientes da região dos Bálcãs. As 16 províncias alemãs, os Länder deram urgência à abertura dessas turmas. Só a cidade de Berlim contava já com 639.

Uma ação urgente

Para Marlis Tepe, presidente do sindicato de professores GEW, “a chave da integração é a língua alemã”, ainda que a diversidade de situações venha a apresentar sérios obstáculos ao trabalho. Somente as regiões de Berlim e do Sarre consideram obrigatória a escolarização das crianças refugiadas desde sua chegada ao país. Nas outras 14 regiões, as crianças precisam aguardar por um pedido de asilo, ou seja, obter um visto de permanência, o que pode exigir meses de espera.

Na visão de Michael Becker-Mrotzek, pesquisador na Universidade de Colônia, autor de um estudo sobre a acolhida aos filhos de imigrantes, “é preciso evitar que as crianças fiquem mais de três meses sem ir à escola. Os atuais desafios eram previsíveis, mas a questão da gestão desta crise foi negligenciada durante anos pelas autoridades”.

Na verdade, nem todos veem com bons olhos a inundação de estrangeiros em fuga de guerras, perseguições religiosas e catástrofes naturais. O estrangeiro é visto por muitos como um “invasor”, alguém incômodo que interpela os cidadãos locais por suas diferenças culturais.

Procuram-se professores

O trabalho de receber em curto prazo uma onda de 325.000 novos alunos, originários de diferentes nações estrangeiras, vai exigir da Alemanha nada menos que 24.000 docentes suplementares. A província de Hesse tenta convencer professores já aposentados a retomarem seu trabalho, com o apoio do sindicato GEW, que se propõe facilitar-lhes o retorno ao trabalho.

O desafio é ainda maior quando se verifica que boa parte das crianças imigrantes sofreram sérios traumatismos na pátria de origem ou no processo de saída. Um estudo da Universidade Técnica de Munique avalia que 20% das crianças sírias foram atingidas por perturbações pós-traumáticas. A Ordem dos Psicoterapeutas alemães exige, antes, os meios necessários para assumir o encargo dessas crianças e facilitar sua integração.

Um dos recursos adotados foi a designação de “tutores”, isto é, colegiais alemães que acompanham seus colegas estrangeiros e, fora do horário normal dos cursos, ajudam-nos a explorar a cidade e tecer novas relações humanas.

Em 2016, cerca de 17 bilhões de euros serão aplicados na acolhida dos imigrantes. Enquanto isso, as nações ditas civilizadas têm a oportunidade de mostrar que são dignas desse adjetivo, realizando um trabalho de longo prazo junto àqueles que a mesma civilização arrancou de suas raízes.

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